Crítica | Narcos 3ª Temporada: “Um herói contra a Colômbia.”
Com a chegada de sua terceira temporada, Narcos enfrentava pressão e desconfiança. Muitos achavam que a série iria decair sem Wagner Moura e Boyd Holbrook no elenco, e sem a grande história de Pablo Escobar que fora finalizada. Mas a série não só seguiu no mesmo nível como mostrou evolução em alguns aspectos.
José Padilha demonstrou seu ótimo trabalho, adaptando um dos períodos menos “teatrais” do narcotráfico. Enquanto Pablo Escobar gostava de mostrar ao mundo aquilo que fazia, expor sua crueldade e violência como prêmios; O Cartel de Cali operava nas sombras, escondido através de empresas reais e fantasmas. Tal método deixava a missão de Narcos um pouco complicada, tentando transmitir a história real do que se passava na Colômbia em 1994. Mas a ajuda do verdadeiro agente Javier Pena se tornou crucial, tendo presenciado a ascenção de Cali.
Desta vez, Narcos contava apenas com Pedro Pascal/Javier Pena como protagonista. Após a queda de Pablo Escobar, o agente Steve Murphy(Boyd Holbrook) retorna aos Estados Unidos, enquanto Pena continua na Colômbia e observa um novo Cartel, mais rico e poderoso que o de Medellín, tomar posse do país. Tudo isso nos ajudou a ver o verdadeiro herói no combate ao narcotráfico. Em suas temporadas anteriores, Narcos deixava o agente Pena em segundo plano, à sombra de Murphy. Mas agora Pena estava de frente com o público e sozinho contra o sistema do Cartel de Cali. Narcos aproveita que seu protagonista se encontra sem parceiros para criar um clima maciço de impotência, gerando angústia e muita expectativa por cada operação, correndo o risco de aquela ser a última do agente. Um herói contra a Colômbia.
O grande dote dessa temporada foi o desenvolvimento dos personagens. Com Chris Feistl e Daniel Van Ness, os Cavalheiros de Cali(um destaque para Miguel Rodrigues), Jorge Salcedo… Narcos mostrou sua eficácia em apresentar estes personagens, desenvolver seu arco de história e finalizar perfeitamente. Fato é, que todo fã da série fica tranquilo quando um novo personagem é apresentado, pois sabe que este será bem colocado na trama e exercerá um papel importante. Não existem personagens sem uma função.
Claro que mesmo Narcos comete erros, como por exemplo a atuação de Andrea Londo(interpretando Maria Salazar) e de Matias Varela(em algumas cenas). Mas o principal erro dessa temporada foi induzido pelo público(e ele não se encontra em nenhum dos episódios): o erro foi em sua divulgação. Após Wagner Moura finalizar seu papel e Boyd Holbrook também ter anunciado que estaria fora da próxima temporada, muitos “fãs” declararam que a série perderia sua qualidade e que deixariam de acompanhar novos episódios, isso levou a Netflix a criar uma divulgação focada nesses “fãs”, com comparações e afirmações entre Medellín e Cali. A Netflix se concentrava em fazer divulgações como “O Cartel de Cali é muito mais poderoso que o de Medellín”, mas isso se tornou chato e fazia parecer que Narcos dependia de suas duas temporadas anteriores, errado. O foco de suas divulgações deveria ser somente o Cartel de Cali, mostrando que Pablo Escobar havia ficado para trás mas que o narcotráfico continuava e que Pena precisaria de toda a sua essência para deter o fluxo da cocaína.
Narcos traz mais uma ótima temporada, com pequenos erros perdoáveis, que prende a atenção e nos deixa cheio de expectativa a cada passo do protagonista. Algo importante que pode vir a acontecer na próxima temporada é o retorno de Murphy. Com a introdução a Nova Iorque nas cenas de Chepe, a série nos lembra que o narcotráfico não faz estragos somente em sua origem mas precisamente em seu destino. Mesmo que Steve Murphy não esteja tão ativo nos seus anos de volta nos EUA a equipe de Narcos pode optar por tomar essa liberdade e trazer Boyd/Murphy novamente, trabalhando no ponto final do tráfico.
Nota: 9.5
Boa maratona!