O potencial feminino no competitivo de Rainbow Six: Siege
O cenário competitivo de Rainbow Six: Siege já está muito bem estabelecido; o jogo se encaminha para o seu quarto ano sendo que três foram com competitivo ativo, desde então vários times já se consagraram vitoriosos, a poderosa line da G2 Esports domina este cenário e até mesmo o Brasil já conquistou um título com a Team Liquid. Mas ainda existe uma luta em desenvolvimento, a representatividade feminina, e com a ajuda da própria Ubisoft essa realidade está próxima.
Como funcionam os campeonatos femininos?
A maioria do público entende errado quando se fala destes campeonatos. A Pro League, o Invitational, Major e todos os campeonatos de Rainbow Six: Siege NÃO são divididos em gênero, ou seja, podem existir times masculinos, femininos, mistos. Os campeonatos exclusivamente femininos são somente uma campanha de inclusão apoiada pela Ubisoft parar dar maior visão ao competitivo feminino de Rainbow Six. Não se trata de separar mas de dar oportunidades.
A PIONEIRA: CHERRYGUMMS
Se hoje o Rainbow Six mostra tamanha acessibilidade ao cenário feminino, muito se deve ao que Nicolle “Cherrygumms” Merhy construiu ao longo dos anos. Cherry foi peça fundamental em transformar a Black Dragons em uma organização competitiva e deu espaço para esta se tornar uma das principais orgs do cenário brasileiro de R6, Nicolle já jogou neste mesmo cenário mas acabou deixando isso de lado para focar na administração da organização.
A Khalessi da Black Dragons é uma figura influente dentro do competitivo de Rainbow Six, em 2018 durante as finais do Six Major em Paris foi exibido um documentário sobre sua estância dentro deste cenário.
A PODEROSA LINE FEMININA: BRAZILIAN CRUSADERS
Em 2018 tivemos torneios femininos apoiados pela Ubisoft que serviram de amostras para estes times e revelaram o interesse de algumas organizações. A Team Fontt acabou ganhando dois Circuitos Femininos e a primeira season da Superliga Feminina dando um grande destaque para a line. E mesmo com o estrelismo da Fontt, a jogadora Cherna da Bootkamp também chamou a atenção e chegou a ser indicada ao prêmio Atleta do Ano de Rainbow Six: Siege, junto de Astro, Zigueira, Cameraman e o vencedor Nesk.
Tudo isso atraiu o interesse da Brazilian Crusaders que assinou um contrato com as titulares da Team Fontt e a Cherna, montando assim o melhor time de Rainbow Six feminino até o momento.
O time é formado por:
- Myllena “Myss1” Almeida
- Andrezza “bits” Fontenele
- Maria “russa” Clara
- Lara “Lara” Beatriz
- Thainara “Thaii” Julio
- Danielle “Cherna” Andrade
- James “trak” Leme (Coach)
As meninas da BRC irão disputar as qualify da Challenger League (segunda divisão sul-americana de R6) que começam dia 18 de Janeiro, e ao que tudo indica elas devem se classificar.
Conversamos com a jogadora Cherna sobre sua carreira dentro do competitivo de Rainbow Six:
Já Joguei – Por que você começou a jogar Rainbow Six: Siege e quando decidiu que queria se tornar uma Pro Player?
Cherna – Comecei a jogar Rainbow Six, por conta de amigos que estavam falando sobre o jogo que estava sendo lançado pela Ubisoft. Sempre tive o sonho de ser Pro Player, mesmo sem time na época que entrei no jogo, treinava para melhorar.
No Brasil, o eSports não é tão conhecido pelo público popular, para muitos ainda existe uma certa insegurança sobre esse assunto, principalmente quando sua carreira depende disso:
Já Joguei – Qual foi a reação da sua família quando você decidiu investir no eSports?
Cherna – Minha família não conhecia o eSports e quando perceberam que eu estava nessa área, começaram a pesquisar e me apoiar cada vez mais.
A habilidade de Danielle chamou bastante atenção em 2018, tanto que a jogadora foi indicada ao Prêmio eSports Brasil:
Já Joguei – No final de 2018 você foi indicada para o prêmio de Melhor Atleta de Rainbow Six: Siege no Prêmio eSports Brasil, como você se sentiu?
Cherna – Quando soube da notícia que fui indicada, me senti muito feliz, mas quando percebi o quanto de hate recebi, me deu uma tristeza que quase me fez parar de jogar.
A jogadora também deu um conselho para meninas que estão ingressando no competitivo no momento: “Não desista por causa de outros, faça o melhor para você e treine cada vez mais.”
Além da competitividade na bala, as mulheres dentro do R6 sofrem com a pressão do público e isso é o maior impasse para uma line feminina (ou mesmo mista) chegar e se manter na sonhada Pro League. Assim como todo jogo, a comunidade de Rainbow Six também tem sua parcela de toxidade. Mesmo que não seja a maioria, enquanto esse preconceito perdurar será sempre generalizado. Casos como o da streamer Little Velma por exemplo, deixam uma mancha nessa comunidade.
A INJUSTIÇA COM A PLAYER GODDESS
Existe uma história muito interessante dentro do cenário competitivo de R6, sobre a ascensão da Pro Player Lauren “Goddess” Williams e seus parceiros para a Pro League.
Em Fevereiro de 2018, a line que Goddess fazia parte foi comprada pela organização beastcoast, disputando a Challenger League da região Norte Americana. O time teve uma boa temporada, liderados pela Goddess como IGL (In Game Leader/Capitã) e conseguiu subir para a Pro League. A partir daqui o time ganhou maior atenção quando em Junho a grande organização Cloud9 ingressou no competitivo de R6 comprando a antiga line da beastcoast; o resultado desse investimento veio em Setembro quando a line conquistou o título da DreamHack Montreal garantindo assim uma vaga no Six Invitational 2019, o mundial de Rainbow Six. Apesar destes bons resultados a equipe acabou lutando contra o rebaixamento no final da última season da Pro League sendo que ainda sim garantiram sua vaga.
A surpresa veio recentemente, dia 8 de Janeiro, quando os companheiros de equipe da Goddess conversaram com a Cloud9 sobre remover a atual IGL do time para adicionarem o jogador Alexander “Skys” Magor ex-Obey Aliance no seu lugar, a organização não concordou com a ideia já que a jogadora Goddess fazia parte do marketing da Cloud9 e representava uma ótima líder para line. Após insistência nisto por parte dos players a organização decidiu vender os contratos dos jogadores e se retirar do cenário competitivo de Rainbow Six.
O resultado foi que a Team Reciprocity irá representar os jogadores na Pro League já que adquiriu os contratos da Cloud9 exceto a Goddess que foi substituída por Skys. Lauren foi contratada pela Elephant Gang e irá disputar a Challenger League. Em seu Twitter a jogadora disse que decisão também pegou ela de surpresa mas se ela subiu para Pro League uma vez nada impede ela de refazer este feito.
A mudança se torna ainda mais estranha quando se avalia do ponto de vista técnico. Lauren era a única suporte dentro do time que agora conta com cinco jogadores que mal conseguem jogar de intermediário. O próprio Skys, substituto direto, é constantemente criticado por uma má utilização de gadjets e habilidades dos operadores, muitas vezes esquecendo do time e do meta do jogo, focando apenas na skill pessoal e troca de tiros, algo que vai totalmente contra o cenário atual de Rainbow Six. O jogador ainda conta com dois rebaixamentos seguidos no seu currículo, nas seasons 7 e 8 da Pro League, as últimas duas edições.
Rainbow Six é um dos eSports que mais da acessibilidade para o público feminino e a Ubisoft faz um ótimo trabalho relacionado aos players casuais e competitivos. O que ainda impede as mulheres de entrarem na liga principal é a grande pressão por parte do público e a falta de atenção das grandes organizações entrando neste cenário. Mas o futuro dá uma visão promissora e times como a BRC estão aí para facilitar o caminho das meninas até o competitivo. Não vai demorar muito até vermos jogadoras como Cherna ganhando destaque mundial dentro do R6.