A Busca pelo Divino em Shang-Chi e A Lenda dos Dez Anéis
A cultura oriental sempre foi plano de fundo para importantes produções e fusão com elementos da cultura ocidental. Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis não foge à regra. Dessa vez, sob a supervisão da toda poderosa Disney/Marvel, o filme mostra o quanto podemos aprender com uma civilização milenar como a chinesa. Mais precisamente, com suas heranças religiosa e ancestral.
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A “Luta” como Filosofia de Vida
No filme, a beleza e leveza se misturam às maravilhosas coreografias de lutas, que mais parecem um balé, uma dança propriamente dita. Assim, a julgar pela qualidade visual e cenas de tirar o fôlego, a trama entra de vez no MCU, fazendo a ponte entre magia, tecnologia e as origens do universo expandido da Marvel (ou multiverso, como preferirem).
Desde o início, a narrativa se mostra impactante, principalmente quando resgata um dos vilões mais poderosos dos quadrinhos: o famoso Mandarim. Aqui ele surge como um buscador do poder e dos segredos ocultos que o tornariam uma ameaça global, sob a alcunha do grupo conhecido como Os Dez Anéis. Além disso, é o pai do herói Shang-Chi.
Aliás, tais artefatos são a chave para se compreender toda a trajetória de preparação e treinamento pesado pelo qual o protagonista passou, como forma de manter um legado um tanto quanto questionável e sombrio. O passado do Mandarim revela um homem que não lutou contra sua ganância e ambição, colocando a vida de sua família em risco.
A Busca pelo Divino
A morte de sua esposa, uma antiga especialista em artes marciais e ocultismo de uma vila escondida (uma espécie de Wakanda chinesa), foi o gatilho para que uma tensão entre pai e filho se desenrolasse em forma de uma complicada disputa por redenção e perdão.
A julgar pelo simbolismo da produção e pela sensibilidade com que se trata a temática principal, o filme é uma linda e respeitosa homenagem à cultura chinesa como um todo. Dessa maneira, sua rica mitologia (que envolve seres místicos como dragões e demônios), filosofia, equilíbrio e harmonia com a natureza, autoconhecimento e magia são o ponto forte da produção. Tudo isso aliado à busca pela melhor versão de si, por meio das lutas simbólicas contra nossos próprios inimigos internos.
Jung e a Necessidade de “Deus”
Jung já afirmava a importância visceral da busca do humano pelo divino: uma busca essencialmente interna e profunda. Afinal, para ele, Deus (a Divindade) vive dentro de cada um, e não apenas fora. Desse modo, sua teoria se baseava numa experiência fenomenológica e epistemológica, ou seja, tudo o que se experimenta ou se sente existe, independentemente de uma comprovação científica.
Mas não se enganem: Jung era, acima de tudo, um cientista. Seu objeto de estudo, a psique, sempre fora considerada um conjunto de heranças, bagagens e recorrências transgeracionais. Ou seja, em outras palavras: a busca pelo sentido das coisas vai do presente ao passado, do recente à memória, do agora à história.
A ancestralidade é condição básica para se compreender a Psicologia Analítica. E assim como em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, é preciso mergulhar no profundo oceano da alma, resgatar os antigos conhecimentos e transformar a própria vida numa jornada pelo desconhecido. Só assim, conciliando o antigo e o atual, é que encontraremos a chave para o despertar do nosso Self, o Si-Mesmo, a nossa Verdadeira Essência.
Dessa forma, buscar “Deus” significa buscar a nós mesmos, numa trajetória pelo eterno e pelo infinito.
E você, o que achou de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis? Conta aí pra gente!
Vinícius de Lacerda é formado em Letras e professor de língua portuguesa. Atualmente, é pós-graduando em Psicologia Junguiana, poeta, compositor e redator.