A Jaula – O que justifica a violência?
Olá, Turneiros, tudo bom? A Jaula veio para surpreender e é mais um exemplo de como o cinema brasileiro é incrível. Com um thriller psicológico que tem como base a questão da violência, insegurança e ideia de justiça que permeia nossa vivência hoje é um ótimo filme para refletir e questionar nosso cotidiano.
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Sobre o que é o filme?
A produção é ambientada em São Paulo Capital, e acompanhamos logo nos minutos iniciais o personagem Djalma (Chay Suede), um assaltante que vê uma oportunidade de roubar um carro de luxo parado numa rua pouco movimentada.
Sem muita dificuldade Djalma abre o carro, entra, pega o que acha bom, mas não consegue sair. De início é possível pensar que ele apenas deu um azar danado, entretanto logo é revelado que aquilo era, na verdade, uma armadilha.
Na verdade, Henrique (Alexandre Nero), o dono do carro e ginecologista renomado, decide transformar seu carro numa prisão para executar um plano de vingança por todos os assaltos que já viveu. Sendo assim, Henrique torna seu carro à prova de som, impossível de ser aberto por dentro e o deixa em um lugar que ele acredita que alguém tentará roubá-lo.
Dito e feito, o que Henrique julgava acontece, e cabe a nós espectadores assistirmos a agonia de ver Djalma nessa situação. Dessa maneira, apesar do desconforto, ficamos presos esperando para saber qual será o desfecho de toda essa situação.
Toda essa história serve de pano de fundo para questionamentos sobre o que é justiça, vingança, além de reflexões importantes sobre quais seriam os limites e justificativas possíveis para violência. Ademais, nos leva a indagar quem seria o verdadeiro vilão nessa história.
Enfim, o filme nos entrega um enredo complexo e muito próximo, pois a temática da violência e do roubo está presente na maior parte das cidades do Brasil. Assim, a revolta por não se sentir seguro ou ter a justiça garantida pelo Estado é algo que com certeza toca todos nós.
A vida imita a arte
Porém o enredo é mais do que isso, A Jaula também reproduz outros aspectos da nossa sociedade, como a figura do “cidadão de bem”. Desta maneira, Henrique o tempo todo, enquanto tortura Djalma, reforça que ele é um cidadão de bem, que tem moral, que não é um verme.
O discurso desse personagem se assemelha muito com um discurso conservador e raso que parece não enxergar nada além do próprio umbigo. Não que todos os assaltos que ele presenciou e a violência dele sejam certos, mas será que tomar a postura de torturar alguém é o melhor caminho? Então, é justamente nessa dualidade que o filme trabalha, mostrando que não existem respostas simples. Combater a violência com mais violência parece não resolver o problema, e sim criar mais um.
Outro ponto interessante de A Jaula é o noticiário que aparece em alguns momentos. Um jornal muito típico também aqui do Brasil, que se apoia na transmissão constante de notícias sobre violência e tragédias. Usando do sensacionalismo para prender e cativar a audiência, esse tipo de programa não contribui para um debate saudável sobre o tema e muito menos para resolução da insegurança incentivando mais violência.
Pontos Altos
Boa parte do filme acontece dentro de um cenário reduzido e com apenas um ator. Contudo, isso foi mais que suficiente para tornar a obra interessante e manter a atenção do público. Na minha visão, o filme acertou muito no tema que é atual, mas não parou por aí, além disso, a fotografia, os enquadramentos muito precisos e a realidade vista pelo olhar de Djalma proporcionam uma imersão profunda, que nos deixa extremamente presos e interessados no filme.
Ademais, A Jaula parece perfeitamente sincronizado para uma imersão do que é a vida num centro urbano, o que é sem dúvida um ponto positivo. Outra questão que me chamou atenção é como não é possível prever quando o filme vai acabar. Desta forma, a sensação era de que ele podia terminar a qualquer momento ou continuar por horas explorando as possibilidades do engajamento dos personagens.
Gostei muito do filme, e confesso que foi bem difícil falar dele sem dar spoilers. Enfim, recomendo muito, super vale a pena tanto pelas reflexões quanto pela construção de roteiro e cenas!
E aí já assistiu A Jaula? Me conta o que achou nos comentários.