Critíca | BlacKkKlansman: “Todo poder para todas as raças.”
Dis joint is based upon some fo’ real, fo’ real shit.
No final dos anos 70, com o movimento dos Panteras Negras perto do fim e a Ku Klux Klan em atividade, um jovem decide que deveria se tornar um policial, nem que fosse o primeiro oficial negro da sua cidade. A história de luta e escárnio de Ron Stallwrth foi transformada em cinema pelo experiente Spike Lee, que soube trazer o equilíbrio entre o drama e o humor em uma história com enredo simples e direto.
BlacKkKlansman é uma produção que sempre se mostrou interessante, contém uma história grandiosa como base e nos traz avisos importantes: a luta contra o racismo ainda resiste e talvez nos estejamos nos momentos mais importantes dela. Quando Ron toma a decisão de entrar para o departamento de polícia ele decide que é hora de agir, hora de se tornar uma parte mais importante desta luta, mudar o sistema por dentro e mostra que o mundo está errado com todo esse preconceito. Dado o sucesso do filme, podemos dizer que ele conseguiu.
A produção conta com uma montagem de altos e baixos. Optando por um estilo mais irreverente, ela traz diferentes modos de se apresentar suas cenas, que na maioria das vezes combina, mas não em todas; de qualquer forma isto é um risco a se correr quando se escolhe algo mais ousado como uma técnica de montagem dessas, e no geral isso fica como algo positivo. O filme também conta com um ritmo mais rápido e uma atmosfera mais leve, tudo para encaixar com o roteiro adaptado do filme que é muito fiel e bem trabalhado afinal, a história original é bem humorizada, apesar de se tratar de um assunto tão sério quanto KKK/preconceito.
John Washington foi uma ótima escolha para o papel de Ron Stallworth, apesar de não trazer uma atuação que seja tanto destaque, ele traz conhecimentos e experiências de vida para Ron; John atualmente faz parte da série Ballers(HBO) onde seu personagem também luta pro igualdade, é um ator que está crescendo e merece muitas oportunidades. O destaque do filme fica claramente com Adam Driver, uma atuação maravilhosa em diversos sentidos, este papel de ‘personagem que interpreta alguém‘ é algo bem complicado de se trabalhar sendo que na maioria das vezes o ator selecionado acaba entregando um resultado “Ok”, não foi o caso de Adam que traz algo acima da média quando entra na pele de Phillip Zimmerman.
O filme também traz uma perfeição em trabalhar com o personagem de David Duke, um dos líderes da KKK, trazendo diálogos tão simples quanto aterrorizantes; a forma como as idéias de Duke soam atuais, mesmo que o filme se passe 40 anos atrás, assustam e nos fazem pensar o quão atentos estamos ao que ocorre a nossa volta. David Duke ainda é uma pessoa importante atualmente, e infelizmente um influenciador.
BlackkKlansman também mostra Stokely Carmichael, ativista negro que aparece próximo do começo do filme, nesta cena e no decorrer do filme é mostrado como o extremismo, mesmo que bem justificado, não é benéfico. Tanto que a própria personagem Patrice(intepretada por Laura Harrier) que se mostra influenciada pelo discurso de Carmichael, mostra uma evolução um tanto consciente e humana, sendo umas das coisas mais sutis e naturais que acontecem no filme.
O final de BlacKkKlansman não poderia ser outro. Contrário ao tom mais leve do filme, os momentos finais mostram cenas de David Duke e Donald Trump atualmente, e com discursos semelhantes; cenas do atropelamento de Charlottesville em 2017; e termina com a bandeira dos EUA de cabeça para baixo e em preto e branco. Um final cru, sincero e pesado.
BlacKkKlansman é um filme muito importante atualmente, que segue a luta contra o preconceito em uma frente liderada por Spike Lee. É uma experiência diferente com sua montagem intuitiva e seu ritmo leve, contrastando brutalmente com o enredo do filme. Tem um roteiro bem adaptado e tem uma enorme chance de ser reconhecido nas premiações que estão por vir. A produção merece sua atenção do começo ao fim, visto que é não somente um montante de qualidades críticas como traz um novo pensamento de ação e mudança, um chamado para nossa luta.