3% | Crítica (sem spoiler) da 4 Temporada
Primeiramente, gostaria de dizer que é muito bacana ver a indústria audiovisual brasileira crescendo a ponto de criar uma série como 3%. A ficção chegou a ser a série de língua não inglesa mais assistida na Netflix nos EUA, antes da chegada de La Casa de Papel. Com isso, é inegável sua importância para o setor nacional. Sendo assim, hoje vamos fazer alguns comentários de como foi o desfecho de 3%, com o lançamento da sua 4 temporada. Além disso, também falaremos sobre seu legado para o setor.
Sinopse
Para quem nunca assistiu, uma sinopse: em uma distopia (que, sinceramente, não me parece muito distante), um desastre cria um ambiente de extrema pobreza no Continente. Entretanto, aos 20 anos, todos os jovens têm a oportunidade de disputar dentro do Processo pelo direito de morar no Maralto, uma ilha que contém as melhores tecnologias e qualidade de vida para os 3% selecionados. Ao mesmo tempo um grupo de resistência, chamado a Causa, tenta encerrar com esse processo, que ajuda a financiar a pobreza extrema para os moradores do Continente.
A primeira vista, conseguimos entender que a série critica o sistema em que poucos desfrutam de muitas riquezas, enquanto o restante vive na pobreza extrema. A mesma inclusive, de forma brilhante, faz crítica ao fanatismo religioso: em muitos momentos os escolhidos para o Maralto são tratados como divindades, e a figura de um Casal Fundador sendo colocado como salvadores reforça ainda mais essa crítica.
Sobre a 4ª temporada (e última) da série, sem spoilers
Na quarta temporada o grupo liderado por Michele (Bianca Comparato) tenta uma alternativa de (mais uma vez) dar fim ao sistema desigual entre Continente e Maralto. A princípio, o grupo conta com um plano de destruição do Maralto, e os mesmos tentam coloca-lo em execução durante uma missão diplomática na Ilha.
Antes de mais nada, destaca-se que a produção continua impecável. A produção consegue visualmente passar as mensagens de forma muito clara, juntamente com uma trilha sonora incrível, que sempre é destaque em todas as temporadas. Já o roteiro está mais corrido do que de costume. Por outro lado, esse problema pode estar relacionado a necessidade de desfecho, e também a construção arrastada da 3ª temporada, que não agradou tanto.
Alguns problemas de execução
Definitivamente, a questão ruim desse final foi a forma inconsequente que os personagens tomaram suas atitudes. No início da série, dava pra notar que a Michele tinha muito preparo para a execução de cada um dos seus passos, e seus objetivos eram muito claros. Todavia, nessa temporada tudo acontece de forma muito rápida e inconsequente. Elisa (Thais Lago), é uma das poucas que consegue enxergar, mesmo dentro do plano, que a falha de execução pode gerar uma grande tragédia para todas as partes. A demais muitos personagens (infelizmente) parece que perdem suas essências calculistas para executar um possível desastre coletivo.
Outro problema está relacionado ao curso da trama. Algumas histórias introduzidas nessa temporada pareceram sem muita necessidade. Assim também vemos que em alguns episódios certos diálogos poderiam ser retirados, pois não acrescentam ao enredo. Um exemplo é a volta da personagem Cássia (Luciana Paes), que faz uma breve aparição sem um propósito de fato importante, que poderia ter sido resolvido sem a aparição da mesma.
Enfim, a série consegue resolver as situações conflitantes. Com o final nós podemos entender que uma mudança só acontece quando o coletivo é considerado. Dessa forma também, conseguimos entender que decisões que impactam na vida de outras pessoas precisam ser planejadas da forma correta e elaborada. Porém, quando os personagens tentam mudar com um plano de execução rápida, tragédias enormes acontecem. E essa é uma clara lição para nossa vida.
O legado da série no audiovisual brasileiro
Esse é um produto audiovisual que eu possuo muito carinho. É um desejo que o Brasil também seja uma potência na criação de séries e filmes de qualidade, assim como o mercado internacional. Sabemos que o caminho é longo e difícil. Do mesmo modo, nosso país ainda tem muito a melhorar em questão de financiamento e incentivo ao audiovisual. Porém, ver séries dessa natureza nos mostra que a jornada está sendo iniciada com sucesso.
Após o lançamento de 3%, ficou mais do que provado que o Brasil tem capacidade técnica de criação audiovisual, como na industria internacional. A série abriu caminhos para outros sucessos brasileiros, como Coisa Mais Linda, Samantha!, Sintonia e outros sucessos nacionais na plataforma.
Definitivamente, em meio a algumas críticas de execução, 3% consegue entregar um final coerente e claro. A mensagem que fica é de que os acontecimentos dessa distopia não estão distantes da nossa realidade.
E ai? Gosta de 3%? O que achou do final da série?