Conheça a diferença: Filmes de Terror com Negros vs. Filmes Negros de Terror
Com base no livro Horror Noire, da editora Darkside, escrito por Robin R. Means Coleman, vamos dialogar nesse artigo sobre filmes de terror, mais precisamente sobre a abordagem da negritude nesses filmes. Inspirado no documentário SHUDDER, o livro com suas 458 páginas nos convida a mergulhar nessa pesquisa cronológica explorando as histórias de terror e a representação negra no cinema. Como o conteúdo é super complexo seria impossível falar sobre tudo de uma vez, por isso por hoje vamos apenas discutir e entender a diferença entre os termos: Filmes de Terror com Negros e Filmes Negros de Terror. Enfim, já ouviu falar?
Confira: Halloween com Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror
Não é surpresa para ninguém que os filmes fazem parte de nossas vidas de uma forma muito além de um mero entretenimento. Sim, eles nos fazem rir, sonhar e explorar o multiverso, mas também abrem um espaço para o conhecimento, questionamento e ressignificação. E, por incrível que pareça, os filmes de terror também estão nessa categoria, de acordo com Coleman: “O gênero mais do que nunca se mostra útil para debater os dilemas da diferença”.
Então, uma das primeiras coisas que me chamou atenção nesse livro foi a separação das categorias. Logo no início, antes de começar sua jornada cronológica, Dra. Coleman nos apresenta duas categorias de terror:
“A primeira: filmes de terror “com negros” e a segunda “filmes negros” de terror”.
Filmes de Terror Com Negros
De acordo com a Dra. Coleman, “filmes de terror com negros lidam com a população negra e a negritude no contexto do terror ainda que o filme de terror não seja completamente ou substancialmente focado em um, ou outro”.
Nessa categoria o personagem negro (geralmente no singular mesmo) aparece como monstruoso, algo animalesco, mas também pode aparecer como alívio cômico ou como a entidade onipresente que só aparece para ajudar o personagem principal branco a resolver o problema, isso quando não são os primeiros a morrer, é claro. Ou seja, esses filmes apresentam algumas imagens de como a negritude é representada. Além disso, eles não exploram o background do personagem, não dando a oportunidade para conhecermos melhor o personagem.
Esses filmes geralmente são produzidos por grandes estúdios por pessoas histórica e tipicamente não negras para o consumo do mainstream.
Alguns exemplos de filmes de terror com negros citados no livro:
King Kong (1933); A Noite dos Mortos Vivos (1968); O Mistério de Candyman (1992):
Em suma, esses são exemplos de filmes que “codificam o monstro como outro racial associado a uma poderosa religião selvagem”. A Dra. Coleman é bem cirúrgica em dizer que deixou fora de seu livro filmes em que os personagens negros estão apenas marcando presença e dos quais alguns comentários sobre a negritude também estão ausente. Porém, deixa uma porta entre aberta para uma discussão sobre a ausência negra em filmes de terror, mas isso é pano para outra matéria.
Filmes Negros de Terror
Para a autora, esse tipo de filme segue com o básico dos filmes de terror, com perturbação, monstruosidade e medo.
“Filmes negros de terror são filmes “raciais”, na maioria das vezes. O que significa que possuem um foco narrativo adicional que chama a atenção para identidade racial, nesse caso, a negritude- cultura negra, história, ideologias, experiências, políticas, linguagem, humor, estética, estilo, músicas (…)”.
Esses filmes possuem a produção, diretor, escritor e artistas negros, sejam como protagonistas, na trilha sonora ou na concepção de figurinos. Portanto, trazem mensagens sociopolíticas para toda a comunidade negra.
“O filme negro trata sobre experiência negra e as tradições negras – um meio cultural e histórico negro girando e impactando as vidas negras nos Estados Unidos.”
São citados no livro, por exemplo:
Def by Temptation (1990); A Vingança dos Mortos (1974); Contos Macabros (1995).
“Temptation e Contos Macabros são filmes sobre problemas sociais pós Direito Civis, que mostram de maneira simultânea, as comunidades negras como lugares repletos de armadilhas perigosas, mas também cheios de orgulho e talento”.
Toda a mensagem Black Power também aparece em A Vingança dos Mortos, além de tratar sobre a onda de gangues e violência oriunda das drogas presentes nas comunidades negras.
Blaxploitation
Com a dificuldade de alcançar a mídia e ainda mais o cinema, surgiu na década de 70 um movimento cinematográfico chamado de Blaxploitation (união da palavra, negro em inglês Black + exploração) para descrever os lançamentos de filmes negros que se inspiravam nas ideologias do movimento Black Power, enquanto apresentavam temas de empoderamento e tomada de consciência. Dessa maneira, abordavam diversos gêneros e o terror era um deles.
Assim, esses filmes tiraram o negro de papéis secundários de serviçais, de vilões monstruosos, e de personagens que morrem primeiro ou se sacrificam para que o personagem branco possa seguir sua história. Sendo assim, aqui eles são os protagonistas, são os heróis e controlam sua imagem e narrativa, contando a história a partir de seus pontos de vista, fazendo com que a sociedade reflita sobre as injustiças e racismo.
Shaft (1971); Blácula (1972); Coffy: Em Busca de Vingança (1973).
Conclusão
“Nenhum filme Hollywoodiano de imagem negra é fruto da inspiração ou esforço de um indivíduo, mas um esforço colaborativo no qual estética, economia e política compartilham (às vezes de forma antagônica) influências”.
Ed. Guerrero
Por fim, a autora acredita que filmes de terror “com negros” e “filmes negros” de terror oferecem uma oportunidade extraordinária de se examinar como raça, identidade e relações raciais são construídas e representadas. Dessa forma, mostrando que esse gênero também é útil para debater os dilemas da diferença.
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3 Comentários
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Matéria excelente para refletir sobre a perpetuação do racismo na representação do cinema. Amei a reflexão.
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