Método ou sem método | Até onde vai à preparação dos atores?
Em Hollywood, muitos atores usam diversas técnicas para se preparar e dar vida aos personagens, uma das estratégias mais polêmicas é a do método, conhecida como acting metodth.
Ficou curioso para saber mais sobre esse assunto? Vem comigo que vou explicar um pouquinho para vocês sobre essa técnica que dá o que falar dentro e fora das telonas.
Como surgiu?
A polêmica técnica originou-se da curiosidade da grande mente de Lee Strasberg. Um ator e diretor que teve contato com o método em 1923, ao assistir à turnê Teatro de Arte de Moscou, nos Estados Unidos, sob a direção de Konstantin Stanislavsky.
Strasberg ficou muito surpreso com a atuação da companhia, pois as performances eram muito expressivas, como se estivessem vivenciando pensamentos, desejos, sensações e emoções reais no palco. Por conta dessa repercussão, dois atores da companhia deram aulas laboratoriais sobre o método de Stanislavsky, na época chamado de Sistema, nos EUA. Nessas aulas, Strasberg compreendeu a importância desse trabalho e resolveu começar a sua própria investigação a respeito da técnica.
Com o passar dos anos, sua pesquisa foi se revelando um grande sucesso. Assim, Lee foi aperfeiçoando e usando suas experiências e percepções como professor e diretor para desenvolver ainda mais exercícios que abordassem as demandas criativas colocadas sobre os atores durante a execução do método. (via The Lee Strasberg Theatre and Film Institute).
Isso transformou o cinema americano. Dessa maneira, à medida que os atores se dedicavam cada vez mais a uma abordagem sistemática no treinamento, sua técnica ganhou um nome – O Método -, e aqueles que o praticavam foram, e ainda são, rotulados como ‘Atores do Método’.
Mas, afinal de contas, o que é o método?
Basicamente, o método é uma técnica de treinamento de atuação que muitos atores utilizam para interpretar um papel. Sendo assim, a técnica encoraja o artista a agir, pensar, se expressar genuinamente como o personagem que ele vai viver. Ou seja, de fato entrar na pele do personagem, resultando em um comportamento psicologicamente profundo.
“O Método treina os atores para usarem seu eu físico, mental e emocional na criação de um personagem e enfatiza a maneira como a experiência pessoal pode estimular a imaginação do ator. Evita clichês e busca a autenticidade individual e uma realidade profundamente enraizada nas circunstâncias dadas do roteiro.” — Lee sobre o que é o Método. (via IGN Brasil).
Apesar das polêmicas, muitos artistas já abraçaram esse intenso método de atuação, como é o caso de Christian Bale (Psicopata Americano); Natalie Portman (Cisne Negro); Charlize Theron (Monster) e até Jim Carrey (Para viver o comediante AndyKaufman).
Quais os impactos dessa técnica?
No entanto, há controvérsias. Por um lado, o método permite que os atores entreguem performances autênticas e emocionantes. Por outro lado, a técnica leva os atores ao extremo, o que pode causar desconforto no elenco e até dificuldades psicológicas para o próprio ator ou atriz. Entre elas, podem estar coisas pequenas, como uma dificuldade de deixar uma característica do personagem para trás, a problemas mais sérios.
Um caso muito conhecido é o do ator Austin Butler, que deu a vida para Elvis Presley nas telonas usando o Método e que teve muita dificuldade para abandonar o sotaque do personagem. A situação foi tão grave que ele precisou recorrer à ajuda profissional para perder o sotaque. Porém, esse não é o único impacto negativo que essa técnica pode gerar.
O Caso dos Jokers
Não é surpresa para ninguém que existe algo místico e polêmico nas interpretações do icônico vilão Joker. Muito além de ser apenas o antagonista do Batman, o Joker é um personagem complexo, com muitas camadas e que exige uma dedicação extrema dos atores que o interpretam.
Muitos acreditam que esse papel carrega uma espécie de ‘maldição’, devido ao estado físico e mental que os atores atingem durante e após dar vida a esse sociopata. Ainda assim, a indústria reconhece a importância e a dedicação desses atores e suas incríveis performances, tanto que dois já ganharam o Oscar por esses papéis.
Hoje, vou focar nos atores que interpretaram esse personagem tão icônico, focando especialmente nos três que usaram o Método. Com o objetivo de entender como e se o método, causou algum impacto negativo para esses atores, ou pessoas à sua volta.
Heath Ledger
Querido por muitos — e meu Joker favorito — Ledger deixou uma marca profunda ao interpretar o personagem. Se dedicou muito e, durante sua preparação, se inspirou em Sid Vicious, da banda Sex Pistols, para compor a aparência do vilão; nos maneirismos de Malcolm McDowell como Alex DeLarge em Laranja Mecânica (1971); e adotou o tom de voz distintivo do cantor e compositor Tom Waits.
Durante sua preparação, Ledger se isolou em um quarto de hotel por cerca de seis semanas, estudando só quadrinhos e desenvolvendo os trejeitos do Joker, mantendo um diário como se fosse o do próprio personagem. Em entrevistas ao New York Times, ele revelou que dormia apenas duas horas por noite e que o papel trouxe grande desgaste físico e mental.
“Não conseguia parar de pensar; meu corpo ficava exausto, mas minha mente continuava.” — Disse o ator em entrevista ao New York Times em novembro de 2007.
Alguns acreditam que essa imersão intensa no personagem contribuiu para sua trágica morte em 2008, seis meses antes do lançamento do filme Batman: O Cavaleiro das Trevas. Vale lembrar que o ator ganhou um Oscar póstumo no ano seguinte por sua interpretação.
Jared Leto
Jared Leto é um nome muito conhecido na música e no cinema, mas apesar do esforço, não foi tão aclamado pela mídia ao interpretar o Joker no Esquadrão Suicida (2016). Leto levou o papel ao extremo, se recusava a interagir com os atores nos bastidores e dificilmente saía da sua persona de Joker.
Em entrevista para E! Online, o próprio ator admitiu ter enviado ratos e até mesmo camisinhas usadas e plugs anais, como presentes para os seus colegas no set. Seu colega de elenco, Will Smith, comentou sobre Leto durante as filmagens: “Ele se tornou o Coringa”, disse Smith, acrescentando: “Ele realmente deu o tom. Ele não estava brincando com isso. Ele estava falando sério como ator, ele estava entrando e estava 100% entrando nesse personagem (via E! Online).”
Durante sua preparação, Leto se dedicou de verdade para o papel e, assim como Ledger também se isolou do resto do elenco. Um dos seus comportamentos mais marcantes era que ele só respondia às pessoas se fosse chamado de “Mr. J” no set de filmagens, o que criava toda uma atmosfera para o elenco e a equipe interagir com ele como se estivesse interagindo com o próprio Coringa.
“Encontrei com especialistas, doutores, psiquiatras que lidam com psicopatas e pessoas que cometeram crimes horrendos, então passei um tempo com essas pessoas, pessoas que foram internadas por grandes períodos de tempo” — Jared Leto para a revista Entertainment.
Margot Robbie, a nossa Arlequina em uma entrevista para o Slash Film sobre sua relação com Leto nos bastidores e como se sente a respeito da técnica usada para viver o Coringa:
“Então, quando ouvi pela primeira vez que ele era metódico e que não podíamos nos referir a ele como Jared e coisas assim, comecei a entrar em pânico porque estou em um relacionamento abusivo com esse cara que pensa que é o personagem. Fiquei preocupada em apanhar no set. Mas ele é respeitoso, profissional e adorável. É tão incrível vê-lo trabalhar porque é um processo realmente bizarro e meio fascinante. Não é um processo que funcionaria para mim, mas posso ver a maneira como ele faz e claramente funciona para ele. É legal.” — Margot Robbie em entrevista para o portal Slash Film.
Joaquin Phoenix
Chegou conquistando a todos com sua interpretação impecável do vilão mais icônico da DC. Joaquin Phoenix deu vida ao personagem no novo filme do Joker (2019), de Todd Phillips, onde trouxe uma perspectiva completamente diferente sobre o vilão.
Phoenix foi o segundo ator a receber um Oscar por interpretar o palhaço do crime e caiu na maldição do Coringa. Durante sua preparação, Phoenix fez uma dieta rigorosa e perdeu 23 quilos para viver o vilão, e por isso acreditava que poderia perder o controle.
“Comer pouco me afetou psicologicamente. Você começa a enlouquecer quando perde essa quantidade de peso em tão pouco tempo.” — Declarou Joaquin Phoenix durante entrevista ao jornal El País.
No entanto, não foi somente a perda de peso, o ator para entrar na pele do Joker também se inspirou em vídeos de pessoas que sofrem da doença do riso. Além de ter estudado diferentes transtornos de personalidade, como narcisismo, psicopatia e sua associação com a criminologia. Todos esses estudos foram essenciais para a construção do Joker que conhecemos, perturbador e completamente fora da casinha.
Em entrevista exclusiva à Super Interessante, Phoenix revelou que um dos desafios de construir seu personagem, foi a transformação de um indivíduo vulnerável, que naturalmente desperta empatia no público, em um vilão completamente insano. Para compreender a mente do vilão, as primeiras cenas gravadas foram aquelas em que Arthur assume o papel de Joker, adotando uma abordagem cronológica inversa.
“Dessa maneira, pude entender melhor como o palhaço vivia dentro daquele cara, e como ele foi lentamente evoluindo até chegar no Coringa” — Compartilhou Phoenix a Super Interessante.
Joker 2 estreou no dia 3 de outubro e conta com Lady Gaga, no papel de Arlequina, uma atriz que também usa o método.
Leia mais: Coringa 2 é tudo que esperávamos?
Afinal, qual minha opinião sobre o Método?
Em Hollywood, há quem opte por usar o Método, enquanto outros preferem manter distância. Como é o caso da atriz Jennifer Lawrence, que já declarou que estar perto de atores que utilizam essa técnica a deixa nervosa.
Acredito que cada ator tem uma abordagem diferente, e que não há certo ou errado. O importante é entender os próprios limites e encontrar a melhor forma de alcançar uma performance autêntica e convincente da sua maneira.
Mas e aí, Turners de que lado vocês estão a favor? Com método ou sem método?
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