Mas afinal o que exatamente é Afrofuturismo?
Estava devendo essa matéria para vocês já têm um tempo né Turners? Afrofuturismo é uma palavra que tem estado na boca do povo, mas se você ainda não sabe o que é afrofuturismo, fica tranquilo que explico.
Falar de Afrofuturismo tem a ver com muitos elementos conhecidos, eu, por exemplo, embarquei nessa pesquisa por conta de Pantera Negra (2019). Um verdadeiro marco do protagonismo negro, o filme exaltou nossas raízes, abordando assuntos como mitologia africana, high tech, estética negra, isso tudo em um filme de super-herói. Dessa forma, ele trouxe tudo isso para as rodas de conversa e, consequentemente, abriu olhos de muita gente para a grandiosidade do povo preto.
Mas a discussão não para por aí pois, como vou detalhar para vocês mais abaixo, o Afrofuturismo tem várias facetas. O último filme de Lázaro Ramos mesmo: Medida Provisória (2022), traz outro lugar de discussão que o movimento Afrofuturista também pode ocupar.
Mas afinal o que é Afrofuturismo?
Afrofuturismo é uma filosofia e um movimento artístico e cultural, que é bastante diverso e pode ser apresentado por diversas vertentes. Desde uma pegada mais sci-fi com direito a viagem no tempo e cyborgs, ou mais voltado para a tecnologia ancestral passada de geração em geração…
Enfim, a questão é que não tem necessariamente um conceito completamente definido. Em resumo, trata-se de olhar para trás e resgatar o passado ancestral. Dessa maneira, o movimento propõe um encontro da mitologia e cosmologia africana com a tecnologia e a ciência, criando espaço para um futuro com grandes inovações para e por pessoas negras.
“Não tem um conceito fechado é pensar nessa descrição como um lugar de partida para outras reflexões.”
Kenia Freitas.
Em suma, é projetar uma narrativa onde os negros estão vivos e atuantes na sociedade como protagonistas das suas histórias e não apenas como estereótipos. É um movimento que se manifesta através da arte, ciência, na música, na moda, na literatura, no cinema e, enfim, ele está mais presente no nosso cotidiano do que imaginamos.
Como começou?
Apesar de parecer uma discussão “recente”, esse movimento já está circulando nesta terra desde a década de 60. Tendo como pioneiro o filósofo e jazzista Herman Poole, que se autonomeava, Sun Ra (Sun= Sol, poder | Rá = Deus da mitologia egípcia que representa o Astro Rei). Suas músicas tinham uma pegada intergaláctica e ele possuía muita influência da mitologia egípcia. Rá acreditava que nunca poderíamos ser livres na terra, mas que iríamos encontrar a liberdade na galáxia, daí veio o seu lema:
“O Espaço é o local.” (Trad. Livre).
Em 1994, o escritor e crítico cultural Mark Dery em seu ensaio chamado “Black to the Future”, convida Greg Tate, Samuel R. Delany e Tricia Rose para uma discussão sobre arte, cultura e tecnologia abordando, entre outros assuntos, a falta de representatividade negra na ficção científica e como o apagamento histórico dos afro-americanos está relacionado a isso:
“O imaginário de discos voadores de Sun Ra é sobre aceitar os poderes místicos que se conhece, culturalmente, e ver a ciência como um processo místico também — um processo que não tem relação apenas com a razão dedutiva, mas com a criação de poder e a postulação de novos mitos sociais. É sobre reconciliar estas duas histórias. Se você vai se imaginar no futuro, você tem que imaginar de onde você veio; culto aos ancestrais na cultura negra é uma maneira de responder ao apagamento histórico.”
Tricia Rose.
Leia Mais: Conheça a diferença: Filmes de Terror com Negros vs. Filmes Negros de Terror
E essa tal representatividade?
Pois, muito que bem, quando falamos acima sobre reimaginar o futuro, estamos falando também sobre representatividade. Sim! Não é mimimi, muito pelo contrário, quando não vemos pessoas como nós ocupando outros espaços para além do esperado pela sociedade, como podemos esperar um futuro diferente?
Não foi fácil chegar a Pantera Negra, por muito tempo, filmes blockbusters de ficção científica não possuíam representação negra e, quando tinha, adivinha? Sim, era o primeiro a morrer e/ou desaparecer, não possuíam background e tinham a sorte de ter uma fala no roteiro. Como pode ser visto em filmes como Star Wars e De Volta para o Futuro. E assim, durantes anos de uma forma sutil (ou nem tanto) mostravam que o futuro não existia para nós, negros.
Exceto é claro para pequenas exceções, como o Will Smith, que carregou muitas vezes o fardo de ter que ser um dos únicos negros a salvar à Terra pelo menos três vezes:
- Indenpendence Day (1996);
- MIB Homens de preto (1997)
- Eu Sou a Lenda (2007).
Mas o que eu quero dizer com isso?
Em resumo, quando nos vemos sendo representados nesses espaços que antes nos eram negados, abre-se uma janela chamada possibilidade; nosso olhar se abre para uma nova perspectiva e possibilidade de vida. Assim, podemos projetar novos futuros para nós mesmos e para aqueles que estão por vir.
Quando marcas de maquiagem começam a colocar mais tonalidades em seus produtos, quando as novelas escalam atores negros para papéis principais, quando filmes começam a ter 99% do elenco e da produção sendo pessoas negras, nos abrem a possibilidade de nos enxergar naqueles lugares.
“Impossível saber que você existe se você não enxerga o seu reflexo”
Black is King.
Para finalizar, sem perder a tradição vou deixar uma lista de recomendações para vocês poderem embarcar nesse role futurístico comigo.
Recomendações da Veh:
Kindred
O livro conta a história de Dana, uma escritora negra da década de 70 e que, no dia do seu aniversário de 26 anos, é acidentalmente levada para o século XIX pré-guerra civil, momento em que a escravidão ainda era uma realidade para o povo negro.
E assim, abordando uma narrativa de viagem do tempo diferente de tudo que já li, Octavia Butler nos faz mergulhar no enredo de um jeito instigante, trazendo reflexões e valores que transcendem gênero e épocas.
Kindred (1979) é um livro para te fazer repensar a sua história e apreciá-la. Te faz refletir em como o passado, presente e futuros estão interligados, e como nós somos os protagonistas da nossa própria história. Sendo assim, cabe somente a nós tentar construí-la da melhor maneira possível todos os dias.
Li uma vez que era impossível terminar de ler Kindred sem se sentir mudado, e garanto a vocês que isso é definitivamente verdade!
Lovrecraft Country
Lovecraft Country (2020), é o meu bebê. De longe é um dos seriados que mais me apeguei, tanto que já tem até uma matéria sobre aqui na Turn. Mas para quem ainda não conhece, basicamente a série se passa na década de 50 nos Estados Unidos e conta a história de Atticus Turner (Jonathan Majors), veterano de guerra que volta para Chicago à procura de seu pai Montrose (Michael K. Williams), que desapareceu enquanto buscava entender sobre a ancestralidade de sua esposa.
Assim, Tic se junta ao seu tio, George (Courtney Vance), e sua amiga Letti (Jurnee Smollett-Bell) em uma viagem para lá de afrofuturista em busca de seu pai desaparecido no sul do país sob forte segregação racial.
Black is King
Não podia deixar de fora dessa recomendação a obra-prima da Queen Bey. Black is King (2020) é um filme musical e álbum visual de Beyoncé que aborda a importância da ancestralidade. Além de temáticas como o empoderamento feminino, exaltação da negritude e representatividade.
Com a narrativa de O Rei Leão, porém mais contemporânea, ela nos leva em uma viagem para o continente africano nos trazendo uma nova visão. Dessa maneira, se afastando dos estereótipos, é uma verdadeira obra decolonial que vai ficar na história.
Por hoje é só, mas como o assunto não se extingue aqui, vou deixar alguns instas para vocês continuarem a pesquisa: @afroliteraria, @afrofuturas, @faleafrofuturo, @kenialicee por último, @morenamariah. Ainda ficou alguma dúvida? Comenta aqui que respondo!
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