
Por que Emilia Pérez está gerando tanta polêmica?
Oiie, Turners, tudo bom? Se você está acompanhando a corrida do Oscar 2025, deve ter esbarrado com o nome Emilia Pérez. O filme francês, dirigido por Jacques Audiard, não agradou muitas pessoas devido a representações caricatas e à falta de profundidade ao lidar com temas sensíveis de outras culturas.
A situação piorou ainda mais devido à postura da atriz que interpreta a protagonista, Karla Sofía Gascón, que atacou a equipe de Fernanda Torres, que concorre pelo prêmio de melhor atriz por Ainda Estou Aqui, de estarem falando mal dela e do filme.
Quer entender tudo isso? Continua lendo aqui que eu te conto!
Antes de tudo, sobre o que é Emília Pérez?
A princípio, o filme se ambienta no México, com o chefe de um cartel decidindo contratar uma advogada para desaparecer e realizar assim sua transição de gênero. Dessa forma, Emília Perez retrata temas delicados, como a violência dos desaparecimentos de pessoas no país por conta de atividades de cartel e a vivência de pessoas trans gênero.
Acompanhamos, assim, a jornada de Juan Del Monte em sua busca por se aposentar e desaparecer do mundo do crime para renascer como Emília Perez (Sofia Gáscon). Logo, Emília recebe ajuda de Rita (Zoe Saldaña), uma advogada insatisfeita com seu trabalho e em busca de mudanças.
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E qual é o grande problema do filme?

A sinopse faz parecer muito interessante e realmente a temática é, porém, a maneira como Jacques Audiard retratou a cultura mexicana e suas dinâmicas foi no mínimo infeliz. Em entrevista, o diretor declarou que não sentiu necessidade de fazer pesquisas ou conhecer a fundo a cultura do México para dirigir e produzir o filme. Segundo ele:
Dessa forma, o francês mostrou um grande desrespeito com a história e cultura mexicana, o que gerou muita revolta. Além disso, o filme é um musical e tem recebido elogios por parte da sua execução técnica.
As músicas foram bem estruturadas, com os cenários trazendo sonoridade natural de coisas do cotidiano. Contudo, tratar temas tão delicados sem pesquisa demonstra falta de cuidado e de respeito com as pessoas que sofrem a violência dos cartéis no México.
De vilão a heroína.

Um dos maiores problemas do filme está na maneira simplista como trata a jornada de sua protagonista. Para quem não sabe, uma pessoa trans gênero é aquela que não se identifica com o sexo de seu nascimento na formação da sua identidade. Ou seja, nasceu do sexo feminino, mas se percebe como um homem ou o contrário.
Muitas pessoas trans levam muitos anos para finalmente conseguir assumir sua identidade verdadeira para o mundo, principalmente por conta do preconceito e violência. E é claro que, até o momento dessa transição, a pessoa trans vai performar os papéis do gênero que lhe foi imposto ao nascer.
Isso é algo muito interessante de ser demonstrado no cinema. É uma oportunidade de gerar mais conhecimento do que é ser uma pessoa trans para o público, gerando assim maior conscientização a respeito do tema. Entretanto, Emília Perez tornou as questões de transgeneridade quase uma piada. Ao retratar que um homem cruel do dia para noite se torna uma mulher empática na luta pelos mais fracos, pareceu artificial.
Essa escolha narrativa é simplista, não explorando assim as nuances da psiquê da personagem e da sua transformação física e mental com a transição de gênero. Veja o que o El País disse sobre o assunto:
“Assumir que, ao realizar sua transição, o macho salvador e cruel que ordenou centenas de assassinados se transforma de imediato em uma mulher empática e comprometida com os mais débeis supõe um malabarismo narrativo imperdoável. A redenção de Emilia Pérez resulta tão falsa — e tão irrespeitosa para o espectador — como o sotaque de Selena Gomez ou o falso império de Audiard por abordar, sem o menor conhecimento ou empatia, o doloroso tema dos desaparecidos no México.”
Estrangeiros interpretando mexicanos.

Além disso, o elenco não ser composto por mexicanos ou ao menos falantes de espanhol como primeira língua trouxe muito descontentamento e críticas do povo mexicano. Selena Gomez, por exemplo, teve um espanhol considerado horrível no filme, ela se defendeu dizendo que fez o melhor que pode com o tempo que teve. Acho a defesa da atriz justa, mas, dado ao fato da mesma não falar a língua, seria mais prudente escalar uma atriz falante de espanhol, de preferência mexicana.
Apesar de existirem muitas desculpas para não escalar os mexicanos, sabemos que é possível, sim, fazer uma produção diversa em representações e escalação de elenco. Um bom exemplo é Sense 8 da Netflix. A produção contou com atores de todos os países nos quais a série é ambientada, mostrando ao mundo muitos talentos incríveis e grande qualidade técnica.
E por que Karla Sofía Gascón está aumentando as polêmicas de Emília Perez?

Por último, temos as polêmicas a respeito de Karla Sofía Gascón. A atriz declarou em entrevista que a equipe de Fernanda Torres e do filme Ainda estou aqui falam mal de Emilia Pérez. Em entrevista para a Folha de São Paulo, a atriz disse:
“Em nenhum momento você me verá falando mal de Fernanda Torres ou do filme de Fernanda Torres. Mas, por outro lado, existem pessoas que trabalham no entorno de Fernanda, que falam mal de mim e de Emilia Pérez.”
Sofia conseguiu provocar a ira dos internautas brasileiros que apontaram que sua fala era uma violação das regras do Oscar. Assim, a Academia revisou a fala da atriz e, mesmo não tendo sofrido penalidade, a equipe de seu filme a afastou da divulgação do mesmo.
Além disso, algumas pessoas recuperaram postagens antigas da mesma com declarações que ofendiam minorias. Com todas essas polêmicas em torno de Emilia Pérez, é interessante refletir sobre o impacto das figuras públicas e qual é sua responsabilidade frente ao público. O musical já está disponível nos cinemas brasileiros, então vale a pena conferir para formar sua própria opinião.
Agora me conta o que você acha de todas essas polêmicas de Emilia Pérez nos comentários. Concorda com as críticas?