Vale a pena ver o remake de A Cor Púrpura?
Olá Turners, como vocês estão?! Aposto que estão interessados em saber tudinho sobre o remake de A Cor Púrpura. Mas antes de entrar de vez nesse enredo emocionante e impactante, precisamos voltar um pouquinho no tempo e fazer uma contextualização, afinal essa não é a primeira vez que temos um musical desse filme. Quer saber mais? Vem comigo!
O que você precisa saber sobre A Cor Púrpura antes de assistir?
A Cor Púrpura é originalmente um livro publicado em 1982 pela autora Alice Walker. Um livro que já nessa época abordava temas como racismo, sexismo, abuso, sororidade e empoderamento. A obra literária chamou tanto à atenção que ganhou o Prêmio Pulitzer de Ficção, causando verdadeiro impacto na literatura contemporânea.
A história se passa em uma pequena cidade da Geórgia, sul dos Estados Unidos, no começo do século XX, e temos como protagonista Celie, uma menina negra de 14 anos que foi abusada pelo seu próprio pai e está dando a luz ao seu segundo filho.
Durante todo o filme, ela vai narrando os acontecimentos ao longo de sua vida e logo no início da trama entendemos que além de sofrer abuso, ela não pode ficar com seus filhos como também fica incapaz de ter mais filhos.
Sua única felicidade e esperança é o amor e amizade de sua irmã Nettie. Enquanto estivessem juntas elas enfrentariam e aguentariam qualquer coisa. Porém, elas são separadas à força e enquanto a Nettie vai para a África com um casal de missionários, Celie é dada para um fazendeiro onde é submetida calada a violência e abuso durante anos esperando que algum dia possa reencontrar a irmã.
Veja Também: Não! Não Olhe! é mais uma produção inesquecível de Peele
A Primeira Adaptações das Telonas e o Musical:
Sendo assim, em 1985, A Cor Púrpura teve sua primeira adaptação para as telonas, com um roteiro de Menno Meyjes e estrelada por Whoopi Goldberg dando a vida para a protagonista Celie, acompanhada por um elenco composto por Margaret Avery, Danny Glover e Oprah Winfrey.
A direção ficou cargo do renomado Steven Spielberg, que recebeu na época 11 indicações ao Oscar abrangendo diversas categorias. Apesar das indicações, A Cor Púrpura não recebeu nenhuma estatueta, considerado para muitos, inclusive dentro da indústria cinematográfica, uma das maiores injustiças da Academia. A obra foi amplamente aclamada pela crítica, deixando assim sua marca como um clássico do cinema.
Em 2005, Scott Sanderson se interessou em fazer um versão para a Broadway, e assim com a entrada de Oprah Winfrey como produtora, levaram a adaptação para os palcos. O musical foi um sucesso e em 2006 a produção recebeu 11 indicações ao Tony Awards. Porém, não parou por aí a relevância foi tão grande que em 2015 o musical teve um revival ganhando 2 prêmios Tony em 2016.
A resposta para o musical foi duradora, recebendo reconhecimento crítico e do público. Assim, solidificando ainda mais o impacto cultural e artístico da narrativa de A Cor Púrpura, o que nos leva ao novo filme.
Quem está por trás do remake de A Cor Púrpura?
O tempo passou e só contribuiu para que essa obra envelhecesse como um bom vinho. Sendo assim, com a produção executiva de Steven Spielberg, Quincy Jones (compositor do original), Scott Sanders e Oprah Winfrey, que aparentemente está comprometida em manter viva essa obra, visto que esteve envolvida em todas as adaptações. Desta vez, chegou a hora de levar o musical para as telonas.
A direção de A Cor Púrpura (2023) ficou por conta de Blitz Bazawule (Co- diretor de Black is King), seguindo com o roteiro de Marcus Gardley, trilha sonora composta por Stephen Bray e Brenda Russel e coreografia de Fatima Robison.
Ah, vale destacar que na trilha sonora, conta também com ninguém mais ninguém menos do que a nossa rainha da favela, Ludmilla, em colaboração com as cantoras V. Bozeman e Dyo possui a faixa “Girls” na trilha sonora do filme.
Minha Análise sobre A Cor Púrpura
Bom, voltando para o filme que veio com uma proposta um pouco diferente.
Não é surpresa para ninguém que é um verdadeiro espetáculo visual, com diferentes cenários, figurinos enfim, proporcionando uma experiência impactante. Não só pelas escolhas visuais, mas também pela finalidade de encerramento de ciclos.
A escolha simbólica da Árvore Angel Oak como cenário inicial e final do filme adiciona uma camada de profundidade à narrativa. Visto que é uma árvore situada na Carolina do sul dos Estados Unidos, com cerca de 400 anos, cuja as lendas locais dizem que os fantasmas de pessoas que foram escravizadas aparecem como anjos ao redor da árvore.
Ao comparar com a versão de 85, observamos mudanças sutis, como a alteração no local de residência das personagens, vivendo agora em cima da loja da família e não numa fazenda. Outras mudanças podem não ser tão sutis, como será explorado ao longo do texto, mas no fim, tudo parece se construir para fazer sentido dentro da nova proposta da adaptação.
Melhor equilíbrio entre angústia e sofrimento
No geral, acredito que o musical teve seus momentos de eficácia. A Cor Púrpura é uma narrativa baseada em experiências reais da autora, transmitindo uma gama de emoções que vão desde angústia e impotência até triunfo e esperança.
Contudo, reconheço que a história é densa e, nesse contexto, a versão musical parece alcançar um equilíbrio em comparação com a versão anterior, mantendo uma atmosfera mais harmoniosa ao longo do filme.
O Musical é exagerado e atrapalha a experiência
Ainda assim, em alguns momentos, o próprio musical se tornou monótono ou apresentou elementos desnecessários. Por exemplo, no terceiro ato, em particular, observei que, apesar do desfecho dos conflitos, a revelação principal foi estendida.
Isso resultou em cerca de umas duas músicas adicionais antes do grand finale, tornando a narrativa longa. A sensação era de que a história já havia alcançado sua resolução, mas a prolongação acabou criando uma certa dispersão e tirando o ânimo do final.
O filme acerta ao explorar mais seus personagens
Essa versão possui o cuidado de abordar a complexibilidade dos personagens, apresentando – os como seres humanos e evitando retratá-los de maneira unilateral. Durante a trama, acompanhamos a jornada individual de cada um deles enquanto se desenvolvem.
Uns achando sua coragem interior, outros buscando a capacidade de perdoar os outros e a si mesmos, e ainda outros em uma jornada em busca de encontrar sua própria voz, enfrentado os seus medos e as consequências dos seus atos. Nesse sentido, vou destacar os personagens que mais me chamaram a atenção, comparado com a outra versão.
MISTER interpretado por Colman Domingo
Pessoas feridas acabam ferindo outras pessoas, e um exemplo notável dessa dinâmica é o personagem Mister. Ele representa a figura de um pai dominante, transmitindo padrões de uma masculinidade tóxica e machista aprendidos de geração em geração.
Contrastando com a versão de Spielberg, onde o personagem, interpretado por Danny Glover, é retratado como um homem vil e cruel que inspira terror apenas com o olhar, a nova interpretação apresenta um Mister mais causador de desconforto do que exatamente de terror.
Claro, que ele mantém a essência cruel e amarga esperada do personagem, mas nesta versão, há uma clara tentativa de humanizá-lo. Essa humanização adiciona nuances à sua personalidade que o leva a redenção ao final da trama.
CELIE interpretado por Fantasia Barrino
Assim como Mister, Celie permanece fiel à versão anterior, ambas retratando uma Celie introspectiva e submissa, embora com algumas diferenças sutis. Na versão de 85, interpretada por Whoopi Goldberg, ela traz uma ingenuidade em sua maneira de se portar e de enxergar o mundo.
Já a versão de Fantasia apresenta uma Celie mais observadora, com um coração generoso capaz de ajudar e perdoar quem necessita, recusando-se a deixar o passado determinar o futuro.
| “Acredito ter dentro de mim tudo que preciso para viver uma vida plena.”
Celie.
SHUG AVEY interpretada por Taraji P. Henson
A “amante” de Mister, filha do pastor, Shug Avey é uma mulher que se sente confortável com sua sexualidade e não abaixa a cabeça para nenhum homem. Ela hipnotiza os personagens com suas danças envolventes e canções cativantes, personificando sua liberdade de ir e vir.
A personagem empoderada e livre das amarras sociais, desperta em Celie a vontade de viver, além de proporcionar afeto e sororidade. No entanto, por trás dessa mulher empoderada, existe uma mulher que deseja o perdão e a compreensão do pai.
Por fim, quero destacar a brilhante atuação de Danielle Brooks, diretamente do musical da Broadway, na interpretação de nossa querida Sofia. Sem dúvida, Brooks conseguiu resgatar a força, ferocidade e determinação da personagem, anteriormente interpretada por Oprah.
| “Toda minha vida eu tive que brigar. Eu tive que brigar com meu pai. Tive que brigar com meus irmão. Tive que brigar com meus primo e meus tio. Uma criança mulher num tá sigura numa família de homem.”
Sofia.
A adaptação musical ainda conta com outros atores e atrizes renomados, como Halle Bailey (Pequena Sereia), Corey Hawkins (In The Heights),Phylicia Pearl Mpasi, Louis Cameron Gossett, H.E.R., Ciara entre outros.
Mas, afinal, qual o veredito: vale a pena assistir?
|“Tudo começa ao querermos entender algo, seja uma pessoa ou apenas um acontecimento.”
Alice Walker.
Essa obra continua tão significativa e importante agora quanto foi na época, com o enfoque nas experiências das mulheres negras e a dificuldade de ser uma em uma sociedade racista e machista.
Sendo uma mulher negra de pele clara, o filme me atravessou de uma forma muito intimista acessando lugares reais. A mulher negra é a última base da pirâmide social, isso porque além de enfrentar o machismo como todas as mulheres, ela também sofre o racismo.
E assim com Walker nos relata em sua obra, o filme reflete esse desconforto da autora que se inspirou na sua vivência de crescer como mulher negra no sul dos Estados Unidos.
Ela conta uma história de superação, empoderamento e coragem que atravessa gerações.
| “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”
Angela Davis.
A Cor Púrpura – O Musical, fica marcado para mim como uma narrativa que se aprofunda nas complexidades da vivência humana, que ao mesmo tempo nos faz lembrar das profundas cicatrizes que o racismo e o sexismo podem deixar nas pessoas e na sociedade.
Uma história de autodescoberta, amor próprio desenvolvendo temáticas como amor e sexualidade, liberdade e espiritualidade, esperança e senso de comunidade, que nos instiga a questionar até onde vai a nossa empatia e o perdão, como podemos através do outro, nos fortificar e curar nossas feridas ao mesmo tempo em que servirmos de motivação e inspiração.
Por fim, ri, chorei e me emocionei muito, sem dúvida um daqueles filmes transformadores.
Mas me diz vocês, já assistiram? Se sim, me contem o que acharam aqui nos comentários.
1 Comment
[…] Veja Também: Vale a pena ver o remake de A Cor Púrpura? […]