Vale a pena ler o livro Stamp?
Olá, turners! Hoje é dia de compartilhar um pouco sobre a nossa primeira leitura do mês de abril: o livro Stamp. Para quem nunca ouviu falar, ele é um livro de ficção científica nacional e tem a proposta de criticar a desigualdade social e também a hipocrisia muito presente dentro da política e da religião.
Dessa maneira, ainda que se passe em um universo distópico, muitos dos preconceitos e situações retratados se conectam a discursos de ódio que infelizmente ainda lidamos atualmente, nos fazendo refletir sobre qual seria o certo a fazer. Assim, com uma premissa forte e interessante, a primeira impressão de Stamp não podia ser melhor.
E não para por aí, é difícil não se encantar pela qualidade do papel e beleza dos detalhes presentes na capa dura. Nela, vemos um mundo aparentemente destruído e fragmentado, despertando de cara nosso interesse de ler e descobrir quais personagens teriam suas histórias contadas ali.
Foi com essa expectativa que comecei a leitura e talvez por isso tenha me decepcionado tanto.
Mas afinal qual a história/sinopse desse livro?
Em um mundo raso a ponto de não ter nome, foi implantado um sistema de castas baseado em classificação por carimbos. Por conta dele, todos aqueles que acatarem o governo e seguirem suas leis poderão evoluir a ponto de entrar em um glorioso paraíso. Mas, em contrapartida, não há nada além de opressão e sofrimento para aqueles que se rebelam ou simplesmente estão abaixo na hierarquia social.
Complacentes e um tanto conformistas demais sobre esse sistema, cada um dos membros da filiação de pesquisas Daydream, um grupo que visa descobrir todos os mistérios desse mundo estranho, tem uma visão sobre como a sociedade funciona e como ela deveria funcionar. Sendo eles: Lilian, uma publicitária carinhosa. Nathalie, uma criada mentirosa recém-promovida ao Center. Catelyn, uma garota de personalidade complicada que foi adotada por Rosemary, a líder do grupo. E Alan, um moço misterioso que recentemente começou a trabalhar lá como assistente.
Vivendo seu dia a dia “pacificamente”, o grupo mal imagina que um assassino do outro lado do mar, acompanhado de sua fiel amante, visa cortar sua suposta paz com uma adaga. Numa realidade caótica onde a única coisa a se fazer é escapar, eles perceberão que, no final, é tudo uma questão de ponto de vista. (Via Amazon).
Nem tudo precisa ser complexo para ser bom
Apesar da escrita de Leonardo de Almeira ser bastante interessante, o modo como escolhe explorar sua trama e personagens não é tão agradável. Como é possível perceber já pela sinopse existem elementos demais dentro da trama. Por exemplo, todo o enredo é narrado por seis personagens, o que permite ambientar o universo, mas atrapalha a relação do leitor com eles.
O livro Stamp está o tempo todo preocupado em nos contar sobre esse novo mundo, mas se esquece que o principal deveria ser convencer o leitor a gostar dos personagens e apresentar um enredo bem amarrado. Apesar do livro ter mais de 300 páginas, nenhum deles acontece, o que torna a leitura muitas vezes maçante e cheia de detalhes daquele universo que não são realmente necessários.
A história precisava ser distópica e também fantástica?
É uma das perguntas que me fiz lendo. Amo as duas, mas desenvolvê-las juntas foi sem dúvida um desafio. No fim, a impressão que ficou é que faltou foco, nem a questão política, nem a fantástica ganharam o destaque merecido, pois precisaram dividir esse palco, que já tinha outros problemas importantes presentes. Deixando a impressão de que na verdade o universo não precisava de tantas peculiaridades.
Pelo contrário, o que ele precisava é que o desenvolvimento do próprio enredo substituísse tudo isso, e trouxesse uma leveza que fizesse mais sentido.
Falta equilíbrio
Ainda que o autor tente equilibrar esse universo com momentos descontraídos, a forma como eles surgem parece desconexa com o resto da obra. Seja nos diálogos, nos pensamentos, ou mesmo na construção das relações entre os personagens, algo não parece estar certo. O autor parece constantemente em dúvida se está escrevendo uma distopia ou livro da nossa época mesmo.
Por outro lado, Almeida traz um artifício interessante, as quebras da quarta parede são constantes e em alguns momentos funcionam muito bem. Contudo, esse artifício acaba sendo utilizado demais, o que o faz perder a força e o fôlego ao longo do enredo.
Mas e os personagens?
Quanto aos personagens é difícil gostar deles, ainda que o livro Stamp apresente personagens promissores e com premissas interessantes, seus papéis na trama não são tão bem trabalhados. Isso sem falar das personagens femininas que apesar de parecerem a primeiro momento empoderadas são todas inseguras e autodepreciativas. Problemas que permanecem do início ao fim.
Além disso, nem todos os temas sensíveis recebem a importância necessária. Por exemplo, muitas vezes parecem estar ali apenas para chocar o leitor. Nos fazendo questionar não só como foram feitas, mas se eram realmente necessárias.
Dessa forma, apesar de prometer muito, o livro acaba decepcionando quem espera por uma história mais complexa ao invés de só um universo completo. Contudo, pode agradar quem gosta de ficção científica misturada com fantasia.
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