Saiba tudo sobre a Coletiva de Imprensa de A Mulher Rei, com Viola Davis
Durante a manhã de segunda-feira, 19, aconteceu no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, a coletiva de imprensa de A Mulher Rei. O evento contou com Viola Davis, protagonista e produtora do filme, e Julius Tennon, marido da atriz e também produtor do filme, respondendo às perguntas.
Os dois haviam chegado dias antes para conhecer a cultura local. Visitaram o MUHCAB, foram até a quadra de samba da Mangueira e jantaram na casa do Lázaro Ramos e da Taís Araújo. Reunião essa que reuniu artistas e intelectuais negros brasileiros, como a cantora Iza, o Seu Jorge, e a filósofa e escritora Djamila Ribeiro.
Começando de forma descontraída a coletiva, Viola Davis se mostrou encantada principalmente com a comida brasileira, elogiou as paisagens cariocas e comentou: “Sempre parece ter algum tipo de celebração no Brasil. Vocês fazem bastante festa por aqui”.
Preparação para o filme
“Contar uma história sobre pessoas de cor em Hollywood nunca é fácil, mas superamos todas as dificuldades” expõe o produtor Julius Tennon logo no começo, ao contar que o filme levou 7 anos para ser produzido.
Eles discorrem que apesar disso, só foram entrar de cabeça na pesquisa sobre as guerreiras em 2018. Além disso, lamentam que só exista um livro que conta a história sobre as Agojies. Pois na maior parte de trabalhos que citam elas, são tendenciosos e inclusive as chamam de Amazonas de Daomé, em referência aos mitos greco-romanos. A própria Viola Davis comenta que teve que se policiar para chamá-las pelo nome certo, porque antes do filme só havia ouvido falar delas por essa perspectiva do colonizador.
A atriz, ao ser questionada sobre sua preparação para um filme de ação, discorre sobre como rejeita chamá-lo assim. Para ela isso é reducionismo, Viola prefere a denominação Drama Histórico com Ação.
Entretanto, explica sobre o ritmo intenso de treinamento, onde, além de um plano alimentar regulado, passava cinco horas por dia se condicionando e outras três horas aprendendo artes marciais. Ela ainda conta que apesar de variar as armas durante a filmagem, havia um facão que tinha que usá-lo com uma mão para mostrar o esforço de empunhá-lo.
Representatividade para mulheres negras
Viola Davis é uma das maiores atrizes da atualidade e frequentemente usa esse seu espaço para pontuar a falta de representatividade de mulheres negras na indústria.
Durante a entrevista, ela analisou como o racismo organizou o mundo em castas, e a mulher negra está na posição mais baixa. Além disso, falou sobre como sempre são postas em lugares de personagens sem nomes, sem histórias, que não voltam a aparecer novamente… Ou mulheres tão fortes que são inumanas e mães chorando sobre o filho morto em um tiroteio. E afirmou que são mais complexas que isso, que podem e devem ser humanizadas.
Eu importo tanto quanto uma Meryl Streep, uma Julianne More. Não ligo se não sou loira, eu não ligo se não visto 34, eu ainda importo, ainda sou merecedora. E o que criamos no cinema tem que refletir tudo isso.
Viola Davis em Coletiva de A Mulher Rei
Viola Davis, emocionada, também expressou que em dez anos atuando, nunca se sentiu tão representada em um papel; que apesar de ter feito no teatro muitas personagens, algumas que mulheres brancas já tinham interpretado antes, sempre sentiu que não se encaixava direito ali, mas, neste filme, ela finalmente sente que está no seu lugar.
Julius, assim como a esposa, expressou a importância do filme para si, quando admitiu, rindo, que era um filhinho da mamãe. Ele explicou que sempre viu as mulheres de sua família como guerreiras e se tornaram sua verdadeira inspiração.
Pois é isso que ele quer mostrar para quem vai assistir A mulher Rei, uma valorização da mulher negra, pontuar que elas importam sim. Tanto em sua força, quanto em sua vulnerabilidade. Atestado pela forma como a intérprete da general Nanisca descreve a sua personagem: “Ela tem segredos, traumas, e apesar de ser uma guerreira, é uma mulher sensível e frágil”.
A indústria cinematográfica
Ao longo de toda a entrevista a indústria cinematográfica foi abordada, desde o começo, quando Julius falou sobre a dificuldade de produzir um filme sobre pessoas negras, mas especificamente em uma pergunta sobre o tema. Questionaram se o mercado estava mais receptivo para atores e profissionais negros, ou se estes criaram seu caminho apesar dele. Ao qual o produtor disse que poderia passar dias falando sobre o tema. Mas respondendo, sim, eles têm que ter uma visão muito clara do que querem, além de perseverança.
“Nós temos as habilidades, o talento, a vontade, só precisamos de uma chance para brilhar… Nós sempre estaremos em desvantagem, mas é preciso ter um pensamento otimista, de esperança”.
Julius Tennon
E Viola complementou, falando que o motivo de sabermos que outras artistas são ótimas é porque elas tiveram oportunidades de mostrarem isso. Citando novamente Meryl Streep e Julianne Moore, além de outras ganhadoras do Oscar.
A lógica de mercado
Apesar de a indústria em si ter um grande problema para produzir filme com protagonismo negro feminino real, não deixa de ser uma indústria em que o que realmente importa é o dinheiro. Se a audiência não for assistir, não comprar ingresso para isso, não terão mais filmes como este sendo realizados, deixa claro os entrevistados:
É necessário comercializar filmes com pessoas negras. Essas produções precisam fazer dinheiro e, quando fizerem, aí, sim, veremos uma proliferação desse tipo de narrativa.
E esse é o sonho deles, que o filme alcance o maior número de pessoas possíveis em que, durante 2 horas e 6 minutos, o público se fascine pelas histórias dessas mulheres negras incríveis. A esperança deles é que o filme seja o primeiro de muitos com representatividade humanizada. Pois depois que a mudança começa, não tem como voltar.
Viola Davis finaliza a coletiva de imprensa com uma provocação para o público:
Se você pode investir o seu dinheiro para ver a Scarlett Johansson, a Angelina Jolie e outras mulheres empunhando espadas, batendo em homens e sendo invencíveis, então, você pode investir seu dinheiro para ver A Mulher Rei.
Com uma salva de palmas os dois saíram, deixando uma sala cheia admirada com seus comentários clínicos e essenciais, além da presença potente dos dois.
E vocês, vão gastar seu dinheiro para investir em A Mulher Rei, tornando possível outros filmes similares no futuro? Espero que sim!