Duna: A Grandiosidade e Simplicidade da Metáfora do Deserto
Duna estreou e arrancou inúmeros suspiros, boas impressões e críticas positivas, principalmente pela grandiosidade de suas cenas. Enfim, o filme, mesmo antes de ser lançado, já carregava um fardo enorme: o de ser totalmente diferente daquele de 1984, dirigido por David Lynch, e considerado um fracasso.
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A Importância de Duna
A obra é considerada uma espécie de bíblia das ficções científicas: escrita por Frank Herbert nos anos de 1960, os 6 volumes mudaram a maneira como as pessoas poderiam enxergar o futuro, numa espécie de profecia acerca das viagens espaciais, conquista do universo, decadência da humanidade e as questões ambientais.
Assim, não por acaso, Duna inspirou toda uma geração de escritores, roteiristas e diretores do gênero sci-fi, que souberam traduzir toda a metáfora da obra em sucessos posteriores como por exemplo Star Wars, Mad Max e até outro gêneros, como Game of Thrones. Certamente, todas elas tiveram impacto diretamente nessa nova adaptação, agora sob a visão de Denis Villeneuve.
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Jung e A Metáfora do Deserto
A princípio, chama-nos à atenção a grandiosidade e simplicidade da metáfora do deserto: cenário que já foi plano de fundo para outras tantas histórias, porém que parece ter ganhado vida e alma nesta que já é considerada uma das maiores produções de Hollywood, não apenas pela sua imensidão, mas também pelos valores envolvidos.
O deserto já foi tema de estudo na obra de Jung, mais precisamente em seu Livro Vermelho (ou Liber Novus). É difícil tentar resumir o conteúdo descrito pelo pai da Psicologia Analítica: trata-se de um de seus últimos escritos, quando, enfim, mergulhou em seu próprio universo interno, a caminho de seu Self, da sua Alma.
Lá, Jung descreve que:
“Minha alma leva-me ao deserto, ao deserto de meu próprio si-mesmo. Não pensava que meu si-mesmo fosse um deserto, um deserto seco e quente, poeirento e se bebida. A viagem conduz através da areia quente, vadeando lentamente, sem objetivo visível de esperança. Como é horrível este deserto! Parece-me que o caminho leva bem longe das pessoas. Ando meu caminho passo a passo e não sei quanto tempo vai durar minha viagem.” [1H iii(r)] (Cap.iv.)
Traduzindo…
A vastidão do deserto mistura-se com a sua aparente calmaria, numa espécie de lugar-nenhum, sem perspectiva ou saída. Contudo, é justamente aí que temos o encontro com a nossa verdadeira natureza. Tal qual um beduíno, um monge, ou messias a procura de sua própria missão de vida. E veja: conecta-se à história de grandes figuras religiosas do passado, como Jesus, Maomé, Zoroastro ou Moisés. Em suma, essa parece ser a premissa e a jornada de Paul Atreides, herdeiro da casa de mesmo nome, na busca por sua verdadeira missão.
A sede representa essa busca por nossa alma, pela sabedoria que transborda como cada gota de água; a solidão é a constatação de que o caminho é solitário, que, vez ou outra, teremos de nos encontrar perdidos para nos acharmos.
Já o sol é guia, mas também é carrasco, queimando nossa pele e pensamentos; a areia , por sua vez, é a estrada tortuosa pelo qual devemos caminhar, que nos cega e se torna o desafio para os nossos olhos. E os vermes? Bom, talvez sejam as tentações, os demônios, a representação de nossos próprios medos e angústias ante o desconhecido.
Enfim, tudo em Duna parece querer nos dizer isso, de uma maneira sublime e sem dúvida muito simbólica. Definitivamente um filme que, pelo olhar do buscador, demonstra a beleza e o perigo do destino.
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