Quando a literatura brasileira vai se livrar do Complexo de Vira-Lata?
Aquele que nunca falou mal do nosso país ao menos uma vez na vida, que atire a primeira pedra. É rotina do brasileiro criticar sua própria cultura, seu povo, sua arte, especialmente, se comparado aos mesmos aspectos de outros países mais desenvolvidos econômicamente que o nosso.
No final das contas, a gente acaba consumindo tanta cultura estrangeira, que acaba esquecendo do nosso próprio valor e vendendo para o exterior uma imagem equivocada de que nada de bom é produzido aqui. Frases como Música nacional é ruim; Arte nacional não presta; Literatura Nacional é tudo igual são ouvidas todos os dias e só contribuem para a disseminação desse esteriótipo bobo e preconceituoso.
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Porque Literatura Nacional não é um gênero!
Não existe uma característica única que ligue todos os livros nacionais já publicados, além da nossa língua. Não faz sentido colocar suspense, romance, autoajuda e ficção científica em um único saco e dizer que todos eles são ruins apenas porque foram escritos por brasileiros.
Basta uma única experiência ruim — às vezes, nem isso — para que o julgamento se torne verdade absoluta. A pessoa leu um livro nacional, não gostou e sai disseminando a ideia de que são todos ruins. O mais engraçado é que, quando essa mesma pessoa não gosta de um livro gringo, não sai por aí dizendo que literatura americana não presta, o que só reforça o estigma do Complexo de Vira-lata.
E esse estigma está tão enraizado, que ninguém procura saber a força da nossa arte. Muitas pessoas desconhecem que Paulo Coelho entrou para o Guiness Book of Records por ter o livro mais traduzido do mundo, contando com uma obra transcrita para 69 línguas. Isso, para não mencionar todos os prêmios internacionais que o autor recebeu, incluindo o de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra, a mais importante condecoração concedida pela França.
O mundo literário reconhece a grandeza do nosso trabalho, então por que nós mesmos não a reconhecemos?
Nossa arte é rica demais para ser tratada com tanto descaso. Entendo que a escola dá uma força na hora de criar esses estereótipos. Quando nos obrigam, lá no Ensino Médio, a ler clássicos, com histórias densas e linguagem formal demais, muitas pessoas acabam tendo a ideia errada de que o brasileiro gosta de falar difícil. Se as instituições de ensino focassem em formar uma base de leitores com os livros gostosinhos de ler que nós temos — Carina Rissi e Paula Pimenta são ótimas opções —, ler um clássico no primeiro ano não seria um martírio tão grande.
A literatura brasileira está crescendo. Ainda somos um país que consome pouca literatura, se comparado com outros países, isso é verdade, mas aos poucos vemos mais gente falando sobre isso nas redes sociais. Booktubers e Bookstagrammers estão se tornando comuns e viralizando o que antes era considerado assunto de gente nerd ou elitizada, mas ainda sinto falta de ver mais livros nacionais sendo indicados.
A cena independente vem ganhando cada vez mais força. Plataformas de autopublicação estão crescendo e dando a todos oportunidade que antes era dada a poucos privilegiados: a de ter um livro publicado. No meio dos milhões de títulos disponíveis, de todos os tamanhos, gêneros e estilos, nenhum deles pode superar um título internacional aclamado? É claro que pode, porque somos incríveis! Não é arrogância, nem prepotência. É só a certeza de que temos o povo mais criativo do mundo e que, quando o brasileiro quer, consegue ser fenomenal em qualquer âmbito que se proponha. A literatura é só uma delas.
2 Comentários
Texto ótimo e necessário!!! Adorei.
Me irrita demais gente que diz que não lê literatura nacional, como se fosse um grande gênero, mas paga pau pra livros estrangeiros
[…] do autor gringo consagrado vale o investimento e o do autor nacional não? Pode ser reflexo do Complexo de Vira-Lata (já conversamos sobre isso aqui), mas, mais do que isso, trata-se de uma desculpa pobre já […]