Crítica | Maria do Caritó: De empoeirada à empoleirada
Não é de hoje que o cinema nacional se sustenta também a partir de peças teatrais originais. Predominantemente cômicas, o sucesso das peças gera incentivo para adaptações. Como é o caso de obras mais antigas como Bonitinha, mas Ordinária, até as mais contemporâneas como, Minha mãe é uma peça. Neste mesmo viés, Maria do Caritó sai dos palcos após 5 anos de apresentações e diversos prêmios, para ganhar espaço nas telas.
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O tal do Caritó
Logo no começo da trama, conhecemos à expressão “caritó” que dá título ao filme. Se trata de uma prateleira na parte alta de uma parede, lar de itens que costumam ficar esquecidos, intocados e empoeirados. Daí, a denominação de Maria (Lília Cabral), que prestes a completar 50 anos, sonha em encontrar seu verdadeiro amor e casar. Já que, devido a uma promessa feita por seu pai à São Djalminha, ela deverá manter-se – no caritó – virgem e noiva do dito santo. Vivendo na religiosidade e cansada da fama de santa milagreira que adquiriu em sua pequena cidade, as esperanças de Maria se renovam após a chegada de um circo.
Os 3 pontos altos do Filme
Enredo atrelado ao Humor
Apesar do enredo parecer absurdo atualmente, não demora para entendermos que não é um filme sobre “desencalhar”. Mas sim sobre a auto descoberta e emancipação de uma mulher, que até então não possuía o controle da própria vida. Ao invés disso, pertencia a todos: ao pai, à igreja, ao poder político e até ao povo. Os contornos de ingenuidade dados à Maria são exagerados e beiram à infantilidade, deixando o espectador com um sentimento de pena pela personagem, mas engana-se quem pensa que é um aspecto prejudicial, pois é daí que o humor do filme provém.
Diferente de filmes nacionais de comédia contemporâneos, Maria do Caritó possui uma veia cômica muito delicada e poética. Mais similar a obras como Lisbela e o Prisioneiro e O Auto da Compadecida, digna da literatura de cordel.Desse modo, o povo brasileiro pode se identificar não apenas pelo humor, mas também a partir da cultura. Por exemplo, em situações expressas no filme, como a cena das simpatias e romarias, e até mesmo pela (excelente) trilha sonora.
A Direção de Jabur
Um grande destaque do filme é o excelente resultado da direção de João Paulo Jabur (da minissérie Novo Mundo), com a linda cinematografia de André Horta (2 Filhos de Francisco), que traz delicadeza e sentimentalismo ao filme, acentuando as perspectivas e emoções da personagem principal. Podemos entender a profundidade de Maria até mesmo por sua imagem refletida em dois momentos distintos do filme:
Primeiro, num espelho rachado, momento em que encontra-se vazia e incompleta, e posteriormente, radiante quando identifica-se como artista. Outro ponto forte é a predominância nas cores claras, sobretudo o azul, que enfatiza o tom de serenidade da obra.
E seu Roteiro
O roteiro, assinado por José Carvalho e Newton Moreno (o autor da peça original), é modesto, cheio de clichês e com desfechos previsíveis. Os diálogos, ainda se parecem com os de uma peça de teatro, mas são bem articulados, divertidos e funcionam dentro da proposta do filme.
O maior problema no entanto, é o desenrolar dos eventos da obra, por vezes jogados ao acaso, não parece haver uma conexão entre as tomadas. O que atrapalha a linearidade dos acontecimentos, comprometendo a fluidez da trama e a montagem.
Há uma singela crítica aos poderes político e religioso no filme, sobretudo quanto à comercialização da fé para controle do povo. Mais uma vez, o objetivo por trás disso é a comicidade das situações e dos personagens, muito bem delineados apesar do pouco tempo em cena.
Assim, de empoeirada à empoleirada, Maria do Caritó promete um bom momento a quem assiste, garantindo um sorriso de otimismo ao final da sessão.
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3 Comentários
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Aqui é a Mônica Souza, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.
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