4 Motivos para assistir Lovecraft Country
Baseado no livro Território Lovecraft do autor Matt Ruff, a HBO apresenta Lovecraft Country uma série potente que conta com nomes de peso como Jordan Peele e J.J. Abrams como produtores e Misha Green como showrunner.
A nova série da HBO se passa na década de 50 nos Estados Unidos e conta a história de Atticus Turner (Jonathan Majors) veterano de guerra que volta para Chicago a procura de seu pai Montrose (Michael K. Williams) que desapareceu enquanto buscava entender sobre a ancestralidade de sua esposa.
Com apenas uma carta como pista, Tic (como é chamado pelos personagens) embarca nessa desventura pelo país com a ajuda de seu tio George (Courtney Vance) e sua amiga Letti (Jurnee Smollett-Bell).
Lovecrafty Country chama grande atenção por ir muito mais além de uma narrativa de terror com criaturas cósmicas de H. P. Lovecraft, abordando assim o terror vivido pelas pessoas negras na época das Leis de Jim Crow, mostrando o quanto as questões raciais são mais ameaçadoras do que as próprias criaturas.
Motivo #1 Ficção Científica protagonizada por Negros
Os anos 90 foi o auge para filmes de ficção cientifica, como De volta para o Futuro, Blade Runner e até mesmo Star Wars estavam em cena, entretanto todos tem algo em comum: a não presença de protagonistas negros em suas produções.
Já nessa época devido a presença do movimento afrofuturista já existiam diversas narrativas futurísticas na literatura trazendo o protagonismo negro em obras de autores como Octavia Butler, Samuel Delany, entre outros. Entretanto em vista do apagamento histórico, existia muito pouco reconhecimento.
Leia Mais: O que é afrofuturismo?
Movimento Afrofuturista
Para quem nunca ouviu falar do movimento, ele existe desde a década de 60 e tem o filósofo e jazzista Sun Rá como pioneiro.
“Eu não sou real, assim como vocês. Vocês não existem nessa sociedade. Se existissem, não estariam buscando direitos iguais. Se fossem reais, teriam algum status entre as nações do mundo. Então somos todos mitos. Não me apresento como uma realidade, e sim como um mito. Porque é isso que os negros são. Mitos. Eu vim de um sonho, sonhado por negros há muito tempo… sou um presente de seus antepassados.”
Sun Ra.
A proposta do movimento é bastante diversa, mas trata essencialmente de resgatar o passado ancestral relacionado a mitologia e cosmologia africana. Tudo isso unido a tecnologia e ciência com objetivo de projetar uma narrativa onde os negros estão vivos e atuantes na sociedade como protagonistas das suas histórias e não apenas dentro de estereótipos.
O afrofuturismo se manifesta através da arte, na musica, na moda, na literatura, no cinema e enfim ele está mais presente no nosso cotidiano do que imaginamos.
Apenas em 2018 que esse termo aparece novamente só que com mais força, através do filme Pantera Negra, fomos presenteados não apenas com mais um filme de herói, mas sim com um filme de herói negro que traz uma história para além dos estereótipos hollywoodianos e para além das mazelas da escravidão.
Mas estamos aqui para falar de Lovecraft Country, uma série de ficção científica com personagens negros em peso, com muita referência tanto passadas quanto da nossa atualidade, mostrando que presente, passado e futuro estão de mãos dadas, nos revelando o quanto é necessário dar espaço para essas produções.
Protagonistas negros? Tem. Ficção? Tem. Referências históricas? Tem. Viagem no tempo? Tem.
Motivo #2 Cada personagem tem seu holofote
Com apenas 10 episódios, a série consegue destrinchar várias camadas dos personagens sem a menor pressa deixando tudo fluido e conectado conseguindo entregar o trabalho bem feito no final.
Conforme o andamento da trama em cada episódio a série da espaço para que todos sejam protagonistas de suas histórias, nos fazendo ficar cada vez mais envolvidos nas dramas pessoais de cada personagem entendendo o jeito de cada um e os motivos de suas ações.
Vou dar destaque para Letti, uma garota que no primeiro momento se mostra aparentemente sem responsabilidade deixando toda essa parte para sua meia-irmã Ruby. E logo em seguida nos faz amar seu pavio curto e sua coragem, mostrando que não é só um rostinho bonito que fica de braços cruzados esperando os homens fazerem o trabalho.
Enfim, sem falar daquela cena MARAVILHOSA que só me lembrava de dona Beyonce em Hold up.
Qualquer semelhança não é mera coincidência!
Ruby por sua vez é uma cantora de blues que mesmo já tendo vivido muitas injustiças por conta do racismo segue com a cabeça erguida. Ambiciosa, não perde a esperança de algum dia ter a oportunidade de trabalhar no emprego dos sonhos.
Além disso, não posso esquecer da incrível Hippolyta e sua filha artista Dee (Diana) que vai ganhando seu espaço na trama. Mulher preta, gorda e mãe, que chega e faz acontecer ao mesmo tempo que se descobre ao longo da trama.
Motivo #3 Referências Históricas
A série além de manter as referências da história do próprio livro e de Lovecraft, consegue trazer referências da cultura negra norte americana fazendo com que se encaixe perfeitamente no seu contexto. Logo no primeiro episódio, somos apresentados ao George, tio de Tic, que na história é o autor do Guia de Viagens para pessoas negras, o Green Book.
Esse livro realmente existiu e foi escrito por Vitor Hugo Green, onde mostrava estadias que aceitavam viajantes negros, pois devido a discriminação elas corriam risco de serem atacadas ou até mesmo morta em determinados localidades.
A série é tão maravilhosa que tem até brasileira metido no meio. Isso mesmo, uma das roteiristas, Shannon Houston, confirmou que o vestido de uma personagem, foi inspirado na roupa de Elza Soares no clipe “Mulher do Fim do Mundo”.
Assim como outra produção da HBO, Watchmen (2019), Lovecraft também aborda através de outra perspectiva sobre o Massacre de Tulsa. Para quem nunca ouviu falar, ele é considerado o pior incidente de violência racial da história norte americana. Quando multidões de moradores brancos atacaram negros em suas residências e comércios no distrito de Greenwood, em Tulsa, Oklahoma.
Motivo #4 Seus Monstros
Apesar de Lovecraft Country não se basear em livros do H.P. Lovecrafty possui muitas referências de seus livros, incluindo as suas criaturas monstruosas e seu horror cósmico.
Logo no primeiro episódio a série já te entrega a mais famosa das criaturas, o Cthulhu, aparecendo na primeira cena.
“E, a criatura se voltou contra o criador”
H.P. Lovecraft provavelmente está se revirando no túmulo, já que suas criações estão em uma série que aborda a questão racial, já que Lovecraft era racista assim como suas narrativas. Dessa forma, podemos entender pelo rumo da narrativa que série está aproveitando a história para ressignificar as obras do autor.
Além disso, temos a presença de mais uma de suas criaturas, o Shoggoth que aparece e agrada os telespectadores matando racistas.
Apesar de não ser foco principal, a série não deixa de mostrar diversos temas ao longo dos episódios. Entre eles a solidão da mulher negra e hipersexualização, colorismo, misogenia, homofobia, privilégio branco, entre outros.
Lovecrafty Country é uma série que te entrega diferentes gêneros de forma muito inteligente. Desde o terror, com direito a casa mal assombrada e as famosas brincadeiras com o tabuleiro ouija, até aventura no estilo Indiana Jones. Dessa maneira, a série vira puro estudo em formato de entretenimento, por várias vezes anotei alguma referência para pesquisar depois.
Além da representatividade, a série conta com uma ótima fotografia, enredo e trilha sonora com destaque para músicas de Rihanna e Cardi B.
Ou seja, dá pra agradar a todos. Enfim, tá esperando o que para assistir?
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[…] Country (2020), é o meu bebê. De longe é um dos seriados que mais me apeguei, tanto que já tem até uma matéria sobre aqui na Turn. Mas para quem ainda não conhece, basicamente a série se passa na década de 50 nos Estados […]
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