Oscar 2024 | Saiba como as indicações revelam o cinema de Hollywood
O Oscar é uma das premiações mais aguardadas e faladas do cinema, e provavelmente a mais conhecida pelo público. Apesar disso, ela parece ser a que menos se conecta com a realidade do mundo e com as mudanças sociais e culturais que nossa sociedade globalizada atingiu. O Oscar 2024 gerou grande polêmica ao esnobar a diretora Greta Gerwig e Margot Robbie, as responsáveis por um filme genial, interessante e popular que reaqueceu os cinemas do mundo.
Mesmo Barbie recebendo oito indicações, elas não estão presentes nas listas de melhor direção e atriz. Algumas pessoas se opuseram às críticas a essa não indicação pelo fato de Justine Triet ter sido indicada como melhor diretora por “Anatomia de uma Queda”, o que passa a impressão de ser uma disputa entre mulheres e que devemos aceitar apenas uma indicação feminina a uma das maiores categorias. Para entender melhor toda essa discussão e as reflexões que podemos ter com essa exclusão, segue o pensamento comigo aqui.
Qual é o histórico do Oscar?
Nas 95 edições do Oscar, mulheres foram indicadas à categoria de melhor direção apenas 7 vezes, e a primeira indicação veio apenas na 49º edição da premiação. Lina Wertmüller teve sua indicação pelo filme “Pasqualino Sete Belezas” em 1975. Sendo indicada novamente em 1994, não ganhando em nenhuma das vezes. A diretora recebeu apenas um Oscar honorário por seu trabalho em 2019.
Nesse sentido, incluindo o recorte racial, ainda não vimos diretoras negras ganharem a estatueta de ouro. Mudando o olhar para melhor atriz, apenas 11 mulheres negras ganharam, sendo Halle Berry a única detentora do Oscar de melhor atriz pelo filme “A Última Ceia”.
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E como o Oscar representa o Cinema de Hollywood?
Ainda que essa desigualdade seja bastante visível no Oscar, ela é um reflexo da realidade do Cinema de Hollywood. Pois, basta analisar um pouco a indústria para perceber que a maioria dos protagonistas nos grandes filmes são homens brancos. O mesmo vale para os nomes envolvidos na direção, produção e demais categorias.
Essa percepção não vem apenas da minha vivência, mas de estudos de universidades americanas que analisam as produções hollywoodianas. Por exemplo, para vocês terem uma ideia, estudos e pesquisas da UCLA, em 2020, apontaram que apenas 20% dos filmes de Hollywood possuem protagonistas negros. Quando se trata de latinos, eles são apenas 5,2%, enquanto asiáticos aparecem em 3,4% dos casos.
Ao contrário do que se pensa, a pesquisa mais recente da UCLA, de 2023, demonstrou que a representatividade no cinema norte-americano caiu após a pandemia. Dessa forma, a universidade concluiu que:
“Em uma era de incerteza econômica intensificada pela pandemia, os estúdios buscaram ‘sucessos infalíveis’ no cinema que se baseavam na nostalgia e na propriedade intelectual anterior. (…) Em vez de avançar com mais inclusão e novas narrativas, os estúdios pareceram limitar suas ofertas cinematográficas em 2022, o que também limitou as oportunidades para certos cineastas.”
UCLA
E o que essa limitação gera?
Especialmente esse retorno e foco ao cinema de nostalgia, marcam um retrocesso em relação ao avanço de um cinema que represente e converse com variados grupos. Pois, as histórias consideradas universais, são aquelas contadas majoritariamente a partir do ponto de vista masculino ou sobre grandes heróis masculinos.
E são elas que ainda dominam as telonas, mesmo existindo um grande público de mulheres querendo ouvir histórias sobre vivências femininas, como Barbie provou, a indústria segue menosprezando isso. O que vai além do aspecto de gênero, tocando também o racial.
Novamente, quando tratamos de diversidade racial, as coisas pioram muito, principalmente quando o assunto é trabalho atrás das câmeras. Por exemplo, apenas 12,6% dos diretores são negros ou negras e as mulheres diretoras seguem sendo minoria – 12,6% contra 87,4% de homens.
Logo, fica muito claro que o Oscar é o menor dos problemas, para termos diretores e diretoras negras, latinas e asiáticas ganhando e sendo indicadas, precisamos que essas pessoas conquistem as mesmas oportunidades que os homens brancos da indústria. O mesmo vale para outras categorias.
A falta de diversidade na premiação do Oscar 2024 e outras edições é apenas a ponta do iceberg da desigualdade no cinema norte-americano. E como podemos mudar isso?
É verdade que não podemos resolver a situação por completo, mas podemos mudar o cinema ao escolhermos conscientemente dar visibilidade a filmes produzidos e protagonizados por essas minorias.
Não significa que o Oscar passará imediatamente a reconhecer essas produções, ou que só assistiremos a títulos como esses, porém se todos se comprometerem a dar visibilidade e a consumir essas produções, a indústria será obrigada com o tempo a seguir a onda, colaborando na transformação e democratização do cinema mundial.
E para você, qual filme faltou no Oscar? Deixa nos comentários.