Crítica | Coringa “Why so serious?”
Coringa é um dos filmes mais esperados do ano e com muita razão. Não só pela relevância do personagem, mas pelo burburinho deixado após sua vitória em Cannes. Desde então as críticas têm sido muito controversas, polêmicas e extremamente preocupantes, há quem o acuse de incitar a violência e o comportamento incel.
Leia Mais: Coringa vira símbolo de mudanças sociais em protestos pelo mundo
O filme estreia nos cinemas brasileiros em 3 de outubro, e promete altos números de bilheteria. Não só pelo alarde que o filme em si está causando, mas pela expectativa em cima da relevância do personagem. O público espera assistir a um “Coringa” digno de Heath Ledger, e o longa-metragem alcança isso com facilidade.
Proposta
Coringa, do diretor Todd Phillips, propõe uma versão mais intensa e perturbadora do vilão, uma apresentação de tudo que fez dele quem ele é. Suas origens são apresentadas de forma gradativa e não linear, e entender sua maldade/loucura é o desafio da proposta. Compreendê-lo não é simples e nem muito menos agradável, mas é uma experiência única e intensa.
Arthur Fleck (Joaquin Phoenix, Johnny & June) é um homem de saúde mental debilitada que luta para ser integrado na sociedade abandonada de Gotham. Ele trabalha durante o dia como palhaço e sonha em ser um comediante de stand-up. O desejo de Arthur é muito simples, seu maior objetivo é fazer as pessoas sorrirem e a maneira que ele encontra para fazê-lo é inusitada e reflexo de uma sociedade extremamente problemática.
As Dualidades de Arthur
Arthur está preso entre suas dualidades, entre a loucura e a realidade e entre a bondade e a maldade. Nele existem todas essas coisas, que brigam entre si para dominá-lo. Coringa não é totalmente ruim ou bom, mas vive numa briga constante de seus dois lados, o que o roteiro sabe desenvolver muito bem. Ele brinca conosco sobre o que é ou não é realidade, nos fazendo duvidar do que estamos assistindo.
Gotham City – A cidade dos vilões?
O filme também faz questão de apresentar o pano de fundo de tudo: Gotham City, uma cidade abandonada a própria sorte com altos índices de desemprego e violência. A maneira como o Coringa nasce juntamente a desesperança e desespero gerado pela situação da cidade é fascinante e levanta inúmeros questionamentos e críticas em relação à desigualdade social exacerbada, violência e principalmente descaso governamental. Coringa conta a história de um vilão ou de uma cidade geradora de vilões?
O filme vai nos levando para dentro da cidade e da cabeça do Coringa, a maneira como sua loucura é tratada com descaso pela sociedade é sem dúvida uma das faíscas capazes de gerar o incêndio que Coringa se torna. Todos têm responsabilidade na construção desse ser “não” humano, ele mesmo pelos crimes que comete, o governo por impossibilitar que ele tenha seus transtornos tratados e a sociedade no geral por excluí-lo. O filme deixa a reflexão para quem ainda não se deu conta, nossos vilões são criados por problemas da sociedade e enquanto eles não forem resolvidos, mais e mais Coringas surgirão.
O Filme
Como obra, o filme é mais que o esperado, entrega algo ousado e novo na perspectiva de filmes de heróis. Num ritmo bem balanceado Coringa aprofunda a loucura do Arthur, a partir de uma junção de ótimas escolhas. Joaquin Phoenix (Johnny & June) está sensacional no papel, apresentando por ora um personagem frágil e em outros momentos alguém agressivo e perigoso, convencendo nas duas maneiras.
Dessa maneira, a forma como o diretor escolhe construir a história a partir dos planos funcionou muito bem, focando em planos mais abertos quando a proposta era apresentar a cidade e seus problemas, e menos amplos quando o objetivo era expor o protagonista.
A escolha da trilha sonora e a fotografia de Lawrence Sher (Godzilla II: Rei dos Monstros) completam a aura perturbadora do filme. O uso de cores sóbrias e escuras demonstra muito bem a sensação de desespero dos moradores de Gotham.
Perigos da Obra
Definitivamente é um filme intenso, perturbador, simplesmente impecável, mas altamente perigoso. Por conta da sua perspectiva e profundidade é capaz de conversar com pessoas com sentimentos similares. E de certa forma inspirá-las a utilizá-lo como um símbolo para as suas ações.
Enfim, ainda que os envolvidos não tenham responsabilidade direta sobre as ações de outras pessoas em cima das suas obras, é necessário sempre avaliar quando se produz qualquer coisa o que aquilo pode causar diretamente ou indiretamente. E Coringa tem potencial de incentivar e motivar movimentos violentos, não me surpreenderia se visse uma notícia que alguém fantasiado de Coringa entrou numa sala de cinema com uma arma, ainda mais levando em conta o que houve em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”.
Ou seja, por mais que o filme seja impecável como arte, todo esse descaso é alarmante. Além disso, ouso dizer que o lançamento pode acabar se tornando um desserviço como 13 Reasons Why.
Leia Mais: Os 5 vilões mais Amados do Cinema
2 Comentários
[…] Leia Mais: Crítica | Coringa “Why so serious?” […]
[…] da confirmação da sequência de Coringa (2019), o novo rumor circulando é a respeito da participação de Lady Gaga, como Arlequina em Coringa 2. […]