Anora combina caos e comédia com grandes interpretações
Premiado em Cannes, Anora tem conquistado o público por onde passa. Com um enredo caótico, engraçado e cheio de sentimentos, o filme surpreende quem assiste por sua complexidade.
De primeira, quem lê a sinopse pode pensar que a história é somente uma comédia romântica ao estilo de Uma Linda Mulher, mas com um toque mais erótico. Afinal, Anora, interpretada por Mikey Madison, trabalha como stripper até que sua vida muda completamente ao se apaixonar e casar com Ivan (Mark Eidelshtein), um herdeiro russo. Porém, a trama vai muito além.
Não demora muito para que o sonho se transforme em pesadelo. Quando a família de Ivan toma conhecimento do casamento, o recente glamour se dissipa de forma inesperada. A partir desse momento, o que parecia um conto de fadas se desmorona e se transforma numa sequência de acontecimentos absurdos e caóticos.
O ganhador da Palma de Ouro é, na verdade, um turbilhão de emoções e brutalidades, apresentadas quase sempre pelo viés da comédia. É o tipo de filme que provoca risos desconfortáveis, deixando você se perguntando se deveria mesmo estar se divertindo com aquilo.
Com uma crítica social latente, a protagonista se esforça o tempo todo para se colocar como uma mulher poderosa enquanto enfrenta uma sequência de violências e desrespeitos. É como se a personagem soubesse que para essas pessoas sua fragilidade não serviria de nada, então para sobreviver ela esconde esse seu lado fraco, o que pode enganar à primeira vista, mas é impossível de manter para sempre.
Ainda que não seja baseado em uma história real, o filme critica algo muito presente na nossa realidade. Faz referência aos papéis que muitas mulheres precisam desempenhar para se proteger e sobreviver todos os dias em diversos lugares do mundo.
Madison brilha no papel de Anora
Conhecida por seus papéis em Era uma vez em… Hollywood (2019) e Pânico (2022), a atriz mostra nesse longa-metragem, que tem potencial para muito mais e que Hollywood seria boba de não aproveitar. Mikey Madison conduz a narrativa com uma intensidade que nos faz sentir cada vitória e queda da personagem.
Com muito carisma e versatilidade, ela entrega tanto a vulnerabilidade que a personagem esconde quanto a sensualidade exibida para proteção. Apesar de tudo isso só ser possível pelo filme ter um roteiro muito bem estruturado e uma direção impecável, ainda assim, outra atriz poderia ter estragado o papel por completo.
Sem Madison, Anora não teria o mesmo impacto. É a interpretação dela junto ao restante do elenco, que também está incrível, que constrói o tom necessário para fazer com que a audiência acredite nessa proposta.
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Uma salva de palmas ao roteiro
Escrito por Baker (Projeto Florida), que também dirige, o roteiro é parte essencial junto ao elenco para tornar o filme o que é. Denso e ainda assim extremamente engraçado, ele consegue fazer o público rir sem nos ludibriar sobre a seriedade do que acontece. É, sim, divertido, mas também amargo em muitos momentos e a maneira como o roteiro equilibra isso é seu maior acerto.
Com mais de duas horas de duração, o filme pode parecer longo para alguns, mas a narrativa sustenta bem esse tempo e desacelera propositalmente no fim, como se quisesse nos preparar para o desfecho inevitável e emocionalmente denso dessa narrativa.
Recentemente exibido na Mostra SP, o longa infelizmente teve sua data de estreia adiada no Brasil de 31 de outubro para 23 de janeiro. Isso aconteceu muito provavelmente por conta das suas fortes chances no Oscar, o longa está entre os mais cotados para a premiação.
Mas, o que posso adiantar é que a espera é válida, Anora é um daqueles filmes marcantes, difíceis de se esquecer e que definitivamente vale a espera que for.