Crítica | Peaky Blinders: A série de Thomas Shelby
Peaky Blinders é uma produção britânica, do canal BBC Two, estreou em Setembro de 2013 e se baseia vagamente nas gangues de Birmingham, na Inglaterra, com foco nos Peaky Blinders. A história real só deu alguns nomes a personagens e serve apenas de começo para a série, mas em nenhum momento a produção é fiel a estes acontecimentos.
Após a Primeira Guerra Mundial, membros da família Shelby retornam de seus serviços na França mudados e trabalham avidamente em seus esquemas de manipulação de apostas em corridas de cavalos, proteção de pubs, entre outras coisas… ilegais. Estes membros formam a gangue Peaky Blinders, liderada por Thomas Shelby, o irmão do meio; quando Thomas encontra um carregamento do governo com poderosas armas de guerra, ele vê uma possibilidade de subir no poder de Birmingham, com um grande plano.
Primeiramente, Thomas Shelby, o protagonista, é uma espécie de Frank Underwood gangster, um homem ambicioso, manipulador que faz de tudo para conseguir mais poder. Thomas é interpretado brilhantemente por Cillian Murphy, é o grande astro da série não por seu nome já conhecido mas pelo que faz dentro de Peaky Blinders, o seu personagem tem um grande espaço nas cenas e é um papel realmente oportuno do qual Cillian faz ótimo uso (que outro ator possivelmente não conseguiria); é um clássico caso de onde o ator “nasceu” para seu personagem, e é bem difícil imaginar um Thomas sem Murphy.
Além disso, no geral, as outras atuações são medianas, algumas até ruins(nada que comprometa a série), isso se deve ao espaço que Thomas ocupa na série mas também aos próprios atores. Fora Cillian Murphy, outro destaque de atuação (e sem muita surpresa) é Tom Hardy; mais uma vez um papel oportuno bem aproveitado por um grande ator, seu personagem, Alfie Solomons, ganha também grande destaques apenas nas cenas nas quais aparece, com diálogos longos e completos, cenas que Tom administra muito bem e acaba quase sempre por se tornar “dono” daqueles momentos. Helen McCrory tem grandes momentos em algumas cenas mas nada muito relevante.
Peaky Blinders contém um problema especial; seu protagonista é um grande personagem, muito bem construído, desenvolvido e certamente um dos favoritos do público. Porém, com um personagem tão especial como Thomas, a série não consegue achar e ceder espaço para seus outros personagens, não consegue tornar estes outros personagens tão atrativos e interessantes como Thomas Shelby. Em diversas produções há exemplos de coadjuvantes que se destacam, se tornam favoritos do público mesmo com um bom protagonista que também faz sucesso com os fãs, isso é algo ótimo para essas produções. Mas isso não é algo que existe em Peaky Blinders, Shelby é de fato o dono da série e apesar do fato que ter um coadjuvante de destaque é algo bom, isso não é algo que estraga a série, mas sim poderia existir, ainda pode, e levaria Peaky Blinders para um patamar mais alto.
Com seu grande protagonista, a série também tem problemas em achar antagonistas a altura. Tendo Campbell por algumas temporadas, Thomas não teve problemas “visíveis” para o público; existem sim o roteiro e as idas e vindas dos planos de Thomas mas, Campbell claramente nunca é uma ameaça para Thomas Shelby. Após uma temporada sem um antagonista principal, a série retorna com essa ferramenta em sua quarta temporada, finalmente trazendo alguém que representasse não só ameaça a Shelby mas também um bom personagem, bem desenvolvido e visualmente incrível. Luca Changreta não é só um “vilão” no papel, no roteiro, ele também é em sua aparência, em sua presença em cena; ele é um grande personagem que consegue bater de frente com Thomas Shelby.
O roteiro e enredo da produção é fraco em suas duas primeiras temporadas, novamente isso não é algo que comprometa a série mas, algumas motivações e como os personagens se desenrolam durante a temporada não é tão interessante quanto ver algumas boas lutas ou Thomas traçando seu plano. Já em sua terceira temporada a série dá uma grande guinada nisso trazendo um ótimo enredo com Família Real Russa, União Soviética, Odd Fellows e o Governo Britânico; acompanhado de um também ótimo roteiro, ligando todos esses nomes pomposos com a gangue dos Peaky Blinders, fazendo com que, no conjunto, esta seja a melhor temporada da série até aqui, superando também a próxima. Sua quarta temporada segue a mesma linha da terceira e é significativamente melhor que suas duas primeiras.
Um dos grandes investimentos da produção vai para toda a parte visual. As vestimentas, a temática, os sets e locais de filmagem, câmeras, pós-produção, edição, montagem, fotografia… Tudo isso é da maior qualidade e faz com a série muitas vezes se assemelhe a um filme, nestes sentidos, e torna ela em algo muito bom de assistir. Mesmo que a série não tivesse tantos pontos positivos que foram citados aqui, e contasse só com isso, ainda sim teria um bom público disposto a assistir pois a série é visualmente perfeita.
Peaky Blinders é uma ótima série, com pouco público na América mas que faz seu sucesso na Europa, merece mais atenção e mais divulgação. Tem um grande protagonista e uma boa história pra contar. Está no nível das populares produções de HBO e contém suas quatro temporadas na Netflix.
Boa maratona!
4 Comentários
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O texto foi muito bem elaborado, porém vale ressaltar que precisamos de uma reanálise do caso após o lançamento da última temporada.
E digo mais, vocês poderiam voltar com as notas no fim das críticas, né?!
Abraços.
Obrigada pelos elogios! Realmente precisamos retomar a partir dessa última temporada
Sobre as notas estamos considerando isso, abraços!!
[…] responsáveis pela criação da bomba atômica. Quem dá vida ao protagonista é Cillian Murphy (Peaky Blinders), e a trama traz o debate sobre o que aconteceu na história da humanidade, a partir da década de […]