Fade Out I Conheça o Lado sombrio do Glamour dos Anos 40
Olá Turneiros, vocês conhecem o trabalho de Ed Brubaker? Fade Out? Caso a resposta seja não, ele é ninguém menos que um dos maiores roteiristas da sua geração. Ganhador do Prêmio Eisner por três vezes, seu nome está associado a trabalhos fantásticos. Para vocês terem uma ideia, ele é famoso por seu trabalho no gênero noir e já trabalhou tanto com a Marvel quanto com a DC. Tendo um super papel de colaboração na história de personagens como Soldado Invernal, Demolidor e Batman.
Mas hoje não vamos falar dessas obras, mas sim da série Fade Out, criada na Image Comics em colaboração com Sean Phillips. Traduzido e lançado pela Editora Mino no Brasil, a série reúne 12 edições do quadrinho de crime, lançadas entre 2014 e 2016, e aclamadas pela crítica desde então.
Qual a trama de Fade Out?
Os quadrinhos seguem Charlie Parrish, um roteirista desafortunado que se vê ainda mais atormentado ao acordar na cena de crime do assassinato da estrela de cinema em ascensão e sua amiga, Val Sommers. A história se desenvolve entre a necessidade dele de respostas para seu apagão na noite da morte da amiga; e no desejo de ignorar o pouco que se lembra em prol de seguir com sua vida deplorável.
Apesar de ter um nome conhecido por trabalhos anteriores e trabalhar numa grande produtora, Charlie não consegue mais escrever. Por conta disso, ele tem como ghostwriter, Gil Mason, que é quem o pressiona na buscar por justiça por Val. Um dos personagens mais marcantes traz à tona toda questão política da época, já que é comunista e sofre consequências disso ao longo do enredo.
No entanto, o auge de Fade Out está em como retrata com perfeição a Hollywood dos anos 40. A dualidade entre a suposta Era de Ouro do cinema cheia de glamour e toda perversidade escondida nos bastidores é simplesmente fascinante. Principalmente, pois se conecta perfeitamente ao enredo, ninguém está disposto a deixar a verdade vir à tona e arriscar mudar o status quo. Pois há muito mais em jogo que só o fim da atriz.
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E o Noir, como ele aparece nesse enredo?
Noir é uma denominação utilizada para se referir a obras de suspense com temáticas criminais e ambientação urbana. Geralmente com personagens moralmente complexos, é muito comum no cinema dos anos 40. E, apesar de Fade Out ser colorido, ele pode se encaixar no gênero pelas outras características e também pelo trabalho de cores, que cria uma atmosfera noir diferente, mas ainda assim impactante.
Por exemplo, com uma paleta de cores central que remete à Era de Ouro de Hollywood, a colorista Elizabeth Breitweiser consegue diferenciar e transitar muito bem entre momentos do passado e presente. Além de conseguir destacar momentos de maior tensão sem nunca perder sua essência.
Mas a cor não é o único elemento que destaca o noir, os personagens, assim como o ambiente retratado, são corruptos, problemáticos e cheios de segredos. Um dos maiores acertos é a utilização de flashbacks para melhor compreensão do quadro geral, pois humaniza seus personagens sem romantizar suas falhas.
Ademais, o roteiro é direto, com ações e consequências sem perder tempo, os personagens podem querer se enganar sobre suas intenções, mas nós não. É cru, mostrando tanto a violência quanto o sexo, mas sem a intenção de apenas causar e sim pelo sentido que faz a trama.
Por que indico o Graphic Novel?
A obra me prendeu já na sinopse e, mesmo que não tenha seguido para o lado que imaginei, abordando mais os problemas de produção por conta da troca de atriz, o caminho que escolheu foi até mais interessante. Ao preferir focar em um universo mais amplo que apenas aquele filme, Ed Brubaker apresenta bem como funcionava a máquina do entretenimento da época.
De forma chocante, é difícil não se perguntar ao longo da leitura o que de tudo aquilo foi inspirado na realidade. Parecendo estar ali para responder nossa pergunta, o autor nos conta nas notas finais que a trama vem inspirada em uma pesquisa bem aprofundada da época e que muito do que está ali não é total, ou completamente fictício. Saber disso torna a leitura ainda mais significativa e interessante, pois o que mais será que todo esse glamour esconde? Definitivamente já quero ler outras obras sobre a época!
Mas essa não é a única razão para ler, para quem ama saber um pouco mais sobre a criação, o livro entrega nas notas finais muita coisa bacana. Com comentários do roteirista, quadrinista e da colorista, muitas das escolhas criativas da obra são explicadas, nos fazendo admirar ainda mais o trabalho deles.
A leitura, por sua vez, flui tranquilamente e apresenta um enredo muito coeso e bem encaixado. Nenhuma informação está ali por acaso. Além disso, o mistério nos prende durante todo o livro e os diversos acontecimentos que temos ao longo dele não se perdem ao longo do arco central. Na verdade, tudo se complementa num grandioso e nefasto panorama da situação.
E confesso que, como fã de finais felizes, esperava outra coisa para o fim, no entanto, o final não seria coerente se não fosse do jeito que é.
3 Comentários
[…] série Matar ou Morrer é escrita por Ed Brubaker com a colaboração de Sean Phillips. As vinte edições publicadas – e já finalizadas – foram divididas em quatro encadernados […]
[…] conhecida parceria dos autores Ed Brubaker e Sean Phillips, responsáveis por sucessos como Fatale, Fade Out e Matar ou Morrer. Além disso, a série Criminal é vencedora de seis prêmios Eisner e Harvey, […]
[…] Para fechar essa lista com perfeição, minha última indicação é Fade Out. Da capa às artes do livro, o encantamento é instantâneo. Enfim, representando muito bem o estilo Noir, a graphic novel nos apresenta Charlie Parrish. Um roteirista azarado que se vê ainda mais perturbado ao acordar em cena de crime, no assassinato de uma estrela de cinema em ascensão. […]