Herói de Sangue é um filme bonito, para uma história triste
Herói de Sangue iniciou sua jornada pelos festivais de cinema, tendo concorrido ao prêmio Un Certain Regard, durante o Festival de Cannes de 2022. E agora foi a vez de estrear no circuito comercial brasileiro, já com o título de maior bilheteria da França do ano e uma promessa para o resto do mundo.
Com direção de Mathieu Vadepied e estrelado por Omar Sy (“Lupin” e “Intocáveis”), o longa-metragem conta a história de um pai senegalês que fará de tudo para salvar seu filho de 17 anos, recrutado à força para lutar pelos franceses na Primeira Guerra Mundial.
O filme busca ser mais do que apenas mais uma obra épica e mergulha no desafio de contar a história de senegaleses e outros povos obrigados a lutar por outras tropas. Histórias, que apesar de reais e dolorosas, nunca foram contadas, mesmo que esses jovens tenham sido arrancados de suas aldeias e suas perdas sejam irreparáveis.
Em Herói de Sangue, Bakary (Omar Sy) se voluntaria para o exército francês para proteger e tentar fugir com Thierno (Alassane Diong), seu filho já convocado. Dessa maneira, o filme explora essa relação de pai e filho sob influência da violência da Guerra. Enquanto o personagem de Omar tem apenas a missão de salvar o jovem, Thierno não vê escolha e se ilude com o sentimento de respeito que lutar na guerra o proporciona, causando fricção nessa relação.
Tecnicamente: Um filme belo
A paleta de cores traz essa sensação intimista, mas que se adapta ao pano de fundo da Guerra Mundial, sendo um tanto desolador também. Nos momentos de batalha e trincheira, por exemplo, a sensação é claustrofóbica e de confusão. Possibilitando compreender um pouco o que esses homens devem ter sentido em meio à guerra.
Por ser mais uma obra de relação que apenas uma história de guerra, a atuação é de suma importância e se torna um dos pontos altos da trama. Enquanto acreditamos na paternidade de Sy, percebemos o crescimento de Diong, de um jovem de aldeia para um homem em meio a guerra. Assim, Jonas Bloquet nos convence de seu Tenente Chambreau louco, para se provar em meio a guerra, e Oumar Sey como o soldado Abdoulaye,que entende como sobreviver àquele meio enquanto busca uma saída.
Herói de Sangue é uma história real?
Não é baseado na vida de alguém, mas uma história possível. A Primeira Guerra Mundial aconteceu, homens de cidades e aldeias em toda a África foram obrigados a lutar essa guerra na Europa.
Não sabemos se existiu de fato um Bakary e um Thierno, mas existiram milhares de mortos em batalha que nunca foram reconhecidos. Debaixo do Arco do Triunfo, na França, existe o memorial do soldado desconhecido. Onde, em 1921, foram enterrados os corpos de soldados mortos, para homenagear aqueles que morreram na guerra e não foram reconhecidos.
E essa é a intenção do cineasta:
O público precisa sentir essa intimidade [entre pai e filho], enquanto observa a influência e a violência de uma guerra que marcou gerações. Aldeias inteiras foram roubadas. Seus entes queridos nunca retornaram. Alguns desapareceram sem sequer terem um enterro.
Mathieu Vadepied
A obra me lembrou Emancipation, estrelado por Will Smith em 2022. Não pela forma, pois essa história é muito mais íntima, enquanto a anterior é totalmente visceral, mas sim por abordar como, historicamente, pessoas pretas foram obrigadas a lutar guerras de brancos por promessas vazias e como suas vidas não valiam nada. No filme isso fica claro, por exemplo, quando os soldados negros mortos são simplesmente deixados ao relento, enquanto o líder branco tem um enterro com toda glória.
E aí, curiosos por essa história? Com 1h40m de duração, Herói de Sangue já está nos cinemas!