Emancipation e a persistência do racismo estrutural
Oiee, turners, tudo bom? Hoje é dia de falar com vocês sobre o novo filme com Will Smith, Emancipation — Uma História de Liberdade, que está disponível na Apple TV. A história se passa durante a Guerra de Secessão norte-americana. Dessa forma, o ponto central é a temática racial e a escravidão, abrindo uma brecha para pensarmos a persistência do racismo estrutural. Ficou curioso? Vem comigo para saber mais.
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O que eu preciso saber do Contexto Histórico?
O filme se passa nos anos finais da Guerra Civil Americana (1861 – 1865) e foi um conflito entre as regiões norte e sul dos Estados Unidos. Nesse sentido, após a independência da Inglaterra, as colônias se converteram em estados independentes unidos pela federação em um regime presidencialista. O Norte com uma economia Industrial e o Sul com monoculturas, principalmente de algodão, que se sustentavam no trabalho de pessoas negras escravizadas.
Sobretudo depois das eleições de 1860, que colocou Abraham Lincoln, representante do Norte, no poder, iniciou-se uma tensão entre as regiões. Acredita-se que não apenas os diferentes modos de economia influenciaram a animosidade entre norte e sul, mas a própria condição de escravidão do sul que ia em conflito com a organização do trabalho no norte que se baseava no trabalho livre. Os estados do sul optaram por se declararem independentes e a resposta do presidente foi investir militarmente para reintegrá-los, gerando a guerra.
Portanto, em 1963, Lincoln promulga a Emancipation Proclamation que liberta todos os escravizados. É justamente nesse cenário que o filme se desenrola, contando a história de Peter (Will Smith), um homem escravizado que foge e consegue chegar ao acampamento dos soldados da União.
Quais os pontos positivos de Emancipation?
O primeiro ponto que vale mencionar é sua fotografia mais pálida. Sua pouca expressividade de cores passa a mensagem da dureza da escravidão muito bem. Apesar desses tons quase preto e branco tornarem um pouco mais difícil assistir ao filme, também trazem mais dramaticidade para todo o enredo.
Outro ponto de destaque são as atuações, que são completamente impecáveis, muito tocantes e realistas. Além de tudo, o filme em si, foi muito verossímil e se contextualiza bem com seu período, nas representações de cenário, figurino, paisagens e nos personagens. Dessa forma, Emancipation consegue mostrar esse choque muito grande em relação à questão racial e à subalternização dos cidadãos negros, questão que permanece até hoje. Assim, nos ajudando a entender o motivo do racismo existir como uma estrutura social.
Além disso, Emancipation também demonstra muito bem como o discurso bíblico e religioso era utilizado como tentativa de controlar e doutrinar essas pessoas escravizadas, as mantendo obedientes. Outra condição bem apresentada na narrativa é a associação das pessoas negras à animais. O filme mostra como esse pensamento funcionava para o homem branco escravocrata com cenas mostrando como os animais eram tratados e, em seguida, cenas de violência contra a população negra.
Como o racismo se mostra?
Em determinado momento do longa, Peter dialoga com o caçador de fugitivos. O homem chama ele de cachorro, diz que é seu Deus e Peter responde “Já que eu sou seu cachorro, que tal você me dar um pouco daquela carne boa que você deu para o outro cachorro?”
Esta cena, assim como outras, revela que a condição da escravidão existia na completa destruição da empatia entre pessoas brancas e pessoas negras. Nesse sentido, esses caçadores, senhores de escravizados, precisavam de um discurso que os separassem por completo, a ponto de não poder existir conexão emocional entre senhor e escravo.
Enfim, esse é o horror da escravidão baseada na raça, que inferioriza outro ser humano simplesmente por ter características fenotípicas diferentes. E foram justamente nesses pensamentos que se baseou o racismo estrutural que vivenciamos até hoje.
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E o que mais veremos?
É um filme muito forte, com muitas cenas de violência gráfica, espectadores mais sensíveis podem considerar desconfortável assistir. Porém, é uma obra muito necessária que escancara as inúmeras violências da escravidão e nos ajuda a entender o porquê o racismo e os problemas que vem com ele ainda são tão fortes e persistentes em nossa sociedade.
A respeito da Guerra Civil americana, Emancipation também deixa muito claro que não existia um lado que era o herói da história, já que o exército do Norte mostrava pouquíssimo respeito e consideração pelas pessoas negras que eram tratadas como inferiores. Existia ali um interesse político e econômico com a libertação dos escravizados e o controle da região Sul dos Estados Unidos.
Desse modo, o general do norte inclusive manda um pelotão composto exclusivamente por homens negros para abrir um ataque contra o sul, sabendo que eles seriam massacrados. O que nos mostra que, mesmo para o lado abolicionista desta guerra, as vidas negras importavam menos.
O que acontece depois?
Ainda assim, mesmo depois da abolição, as pessoas negras continuaram sendo tratados como seres inferiores e cidadãos de segunda classe nos Estados Unidos. Por muitos anos vigoraram leis que justificaram o racismo e a segregação racial. Em vários estados por muito tempo existiam leis que proibiam casamentos inter raciais. Separação de lojas para brancos e negros e outras coisas similares.
Assim, isso tudo só começou a mudar com os movimentos por direitos civis dos negros que teve líderes importantes como Martin Luther King Jr. e Malcom X . O estopim desses movimentos no século XX foi o ato revolucionário de Rosa Parks que, em dezembro de 1955, se recusou a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco, como dizia a lei. Ela foi detida, mas seu protesto pacífico trouxe uma abertura para que outros cidadãos negros fizessem o mesmo, aumentando cada vez mais a onda de protestos.
Dessa forma, gradualmente várias leis racistas e segregacionistas passaram a cair. Ela foi uma verdadeira heroína. Bom, apesar desses avanços nos direitos civis da população negra, ainda temos um longo caminho a percorrer para vencer o racismo estrutural e a violência que ele gera.
Por isso, filmes como Emancipation são importantíssimos, entender o que aconteceu no passado e que isso ainda influencia o hoje é um passo importante para vencer a segregação racial ainda presente.
Enfim, é isso, pessoal. Eu achei o filme incrível, espero que seja indicado ao Oscar. Você já assistiu? Me conta nos comentários o que achou.
1 Comment
[…] obra me lembrou Emancipation, estrelado por Will Smith em 2022, não pela forma, pois essa historia é muito mais íntima […]