O que tem de real em Oppenheimer?
Oppenheimer é o último trabalho lançado de Christopher Nolan, diretor conhecido pela trilogia de Batman Cavaleiro das Trevas (2005-2012), A Origem (2010), Interestelar (2014), Dunkirk (2017) e outros. O filme foi baseado na história de J. Robert Oppenheimer, físico teórico que foi um dos responsáveis pela criação da bomba atômica. Quem dá vida ao protagonista é Cillian Murphy (Peaky Blinders), e a trama traz o debate sobre o que aconteceu na história da humanidade, a partir da década de 40. E após assistir ao filme fica a dúvida: O que tem de real em Oppenheimer? Vamos te contar, mas, primeiramente, é importante explicar quem foi o físico.
Quem foi Oppenheimer?
Julius Robert Oppenheimer era filho de imigrantes judeus, embora nascido nos Estados Unidos. Seus pais imigraram da Prússia, e enfrentavam uma onda de antissemitismo crescente na Europa e na América.
Oppenheimer estudou química em Harvard e Cambridge, e fez Doutorado na Alemanha, na Universidade de Göttingen. Após o término do Doutorado o físico retornou aos EUA, e ganhou destaque na área pelas teses físicas desenvolvidas.
Por isso, com a proximidade da Segunda Guerra Mundial, ele foi convocado para integrar um projeto secreto do governo americano, chamado Projeto Manhattan. O programa foi elaborado para desenvolver as primeiras bombas atômicas durante a Segunda Guerra.
Com a notoriedade e o populismo – não tão carismático – de Oppenheimer, ele se tornou diretor do Laboratório de Los Alamos, o centro de desenvolvimento de bombas atômicas. Em 1945, os cientistas de Los Alamos e integrantes do Projeto Manhattan, finalizaram a concretização da bomba atômica. E, no mesmo ano, os EUA utilizou a arma para atacar as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, vitimando mais de 100 mil civis.
Mas, embora Nolan tenha usado a biografia do físico como pano de fundo, o longa também expõe elementos que, de fato, aconteceram, mas não da maneira mostrada.
(E, cuidado! A partir daqui, haverá spoilers!)
Oppenheimer e Einstein
No filme, Albert Einstein (Tom Conti) e Oppenheimer aparecem algumas vezes conversando. Em uma delas, Oppie consulta Einstein sobre detalhes do Projeto Manhattan e os possíveis impactos sobre a bomba atômica como arma de guerra. De fato, os físicos se conheciam, mas não existe comprovação histórica de que Einstein teria opinado sobre os estudos do Projeto Manhattan.
Ao contrário, sabe-se que Oppenheimer foi até Arthur Compton, físico americano laureado com o Nobel da Física, em 1927. O receio de Oppie era de que, a partir dos cálculos elaborados, a detonação da bomba poderia ocasionar uma reação em cadeia que destruiria o planeta. Compton, por sua vez, checou os cálculos e viu que a chance dessa catástrofe acontecer era praticamente nula.
Mas o que o filme pincela — e que é verdade — é que Einstein era bastante pacifista. Tanto que, em 1939, o físico assinou uma carta (Carta de Einstein-Szilárd) endereçada ao presidente dos EUA, alertando sobre a criação de uma bomba de urânio que teria grande poder destrutivo, e que a Alemanha nazista poderia estar na corrida para concluir essa arma.
Oppenheimer comunista?
As duas principais mulheres que passaram pela vida de Oppeinheimer tinham realmente afinidades bem próximas ao comunismo. Jean Tatlock (Florence Pugh) era membro do Partido Comunista, com quem o físico teve relações não tão públicas assim. E Katherine “Kitty” Oppenheimer (Emily Blunt) também fez parte do Partido Comunista, principalmente por conta de seu primeiro marido, Joe Dallet.
O que é inegável é: Oppenheimer, antes da Segunda Guerra, era conhecido por seus ideais voltados para o comunismo. Ele era pró-sindicatos e acreditava na igualdade, como vimos no filme. Ou seja, ele tinha inclinação para a esquerda, mas não houve nenhum registro do físico ao Partido Comunista.
Após o lançamento da bomba em Hiroshima e Nagasaki e com o surgimento do Macarthismo (movimento americano de repressão política ao comunismo, que durou de 1950 a 1957), o físico não se posicionou contra e nem a favor do comunismo, também por conta da perseguição americana bem forte ao combate da “onda vermelha”.
A amizade de Oppenheimer e Niels Bohr
Oppenheimer realmente estudou nas universidades mencionadas e possuía muitas conexões com os físicos mais proeminentes da época. Um deles foi Niels Bohr, físico dinamarquês e um dos fundadores da Teoria Quântica.
Os conhecimentos de Bohr sobre o átomo foram muito abordados por Oppenheimer, principalmente com a iniciativa do Projeto Manhattan. No entanto, Bohr não quis se juntar aos cientistas de Los Alamos, porque ele não acreditava no objetivo militar sobre o uso da arma nuclear.
Julgamento de Oppenheimer
O filme mostra que o “julgamento” (que, na verdade, não foi uma audiência tão extensa), de fato, aconteceu. O físico, por conta de sua proximidade às ideias comunistas, foi acusado como um traidor da pátria americana.
A audiência de Oppie aconteceu também por conta da vingança de Lewis Strauss (Robert Downey Jr.) contra Oppenheimer. Os dois tiveram uma relação muito tensa, principalmente por conta das opiniões divergentes sobre a venda de isótopos (que era uma das matérias extraídas a partir da produção das bombas). O físico era contra essa comercialização, mas Strauss era a favor.
Vale dizer que Christopher Nolan colocou uma testemunha-chave dessa audiência no longa, o Dr. David Hill (Rami Malek) representou a comunidade científica e teria sido decisivo para bloquear a nomeação de Lewis Strauss como parte do gabinete do presente.
Na realidade, Hill foi o porta-voz da comunidade científica, garantindo que “a maioria dos cientistas preferiria que Strauss ficasse inteiramente fora da administração pública”. No entanto, não foi somente o depoimento dele que impressionou os políticos, durante a audiência.
David Inglis, outro cientista integrante do Projeto Manhattan e, anos depois, Chefe da Federação de Cientistas Americanos, também foi decisivo ao afirmar que Strauss planejava uma vingança pessoal contra Oppenheimer.
Essas foram as principais diferenças entre o que foi verídico e o que foi ficção na trama. Mas, é inegável que Christopher Nolan fez um estudo detalhado e complexo para transmitir a maior riqueza dos detalhes da vida de Oppenheimer.
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