Oppenheimer é um dos trabalhos mais bem feitos de Nolan
O diretor Christopher Nolan é conhecido por dirigir e produzir longas de alta complexidade e tramas bem amarradas. O público espera que, a cada trabalho, o diretor se desafie mais e mostre mais enredos complexos. No entanto, Oppenheimer vai de encontro aos padrões de Nolan. O filme é até bastante simples, o que é incomum, considerando o histórico do diretor. Talvez, por ser um filme baseado em fatos, seria muito afrontoso ousar demais na narrativa.
E, mesmo assim, Nolan até tentou. No início da trama, nota-se um jogo de flashback (as cenas em preto e branco) e flashforward (cenas coloridas) frequente, o que, inicialmente, pode deixar o espectador um pouco confuso. E talvez esse tenha sido o único deslize do filme. Por ser uma narrativa que retrata uma situação histórica e real, esse jogo de ‘idas e vindas’ foi um pouco cansativo e desnecessário.
Assim, apesar do toque de Nolan para tentar dificultar um filme que não tinha nenhuma dificuldade, em suma, Oppenheimer é um dos trabalhos mais prestigiados — se não o mais bem feito — do diretor, até agora.
Enredo
O filme narra a história de J. Robbert Oppenheimer (vivido por Cillian Murphy), físico americano, conhecido como “o pai da bomba atômica”. Oppie (como é chamado no filme) foi um dos responsáveis por levar a física quântica aos EUA, e também foi um dos principais personagens pelo desenvolvimento da corrida armamentista durante a Segunda Guerra, para derrotar os nazistas.
A história, por si, é fácil de ser compreendida. Cillian Murphy personifica um dos papéis mais importantes de sua carreira em uma performance assombrosa, verossímil e impecável. Com isso, Oppenheimer é evidenciado como uma das figuras mais polêmicas do século XX. O ator retratou com excelência a vaidade do físico, bem como o seu medo em ver seu projeto de vida usado para a morte de milhares de inocentes.
No longa-metragem, vemos a Alemanha se rendendo com a derrota do nazismo de Hitler, apesar da insistência do Japão, como único país do Eixo, resistente à Segunda Guerra Mundial. Por isso, como consequência, Hiroshima e Nagazaki foram atacadas, na intenção de mostrar ao mundo o poderio bélico que estava sob comando dos Estados Unidos.
Produção técnica e atuações
Se Oppenheimer é um sucesso, pode ter a certeza de que um dos responsáveis por isso é Cillian Murphy. O astro já atuou em outras oportunidades com Christopher Nolan, como em Batman Begins (2005), A Origem (2010) e Dunkirk (2017), embora em papéis secundários. Desta vez, como protagonista, Murphy conseguiu, com toda destreza, trazer à tona toda a perturbação da mente do físico, desde os olhares até os trejeitos. A maquiagem, certamente, ajudou, mas as expressões de Cillian Murphy ao interpretar Oppenheimer ultrapassam o esperado.
Ainda, o elenco também traz nomes de peso, como Emily Blunt (que interpreta Kitty, esposa de Oppie); Robert Downey Jr. como Lewis Strauss, membro da Comissão de Energia Atômica; Matt Damon como Leslie Groves, oficial do governo dos Estados Unidos que foi um dos responsáveis pelo projeto da bomba, entre outros atores de grande destaque.
Embora o longa não tenha muitas cenas de ação, Oppenheimer impressiona pela excelência técnica, especialmente quanto à mixagem e design de som e edição das cenas. Nolan abusou, com maestria, da sensação de imersão ao espectador, desde as visões do protagonista ao impacto que a bomba teria causado. Isto é, os efeitos sonoros são uma atração à parte, dignos de Oscar.
Ainda, ao longo da narrativa, vemos que o flashback e flashforward se esgotam a partir do julgamento de Oppenheimer. Talvez tenha sido, a partir desse momento, que o filme ganha contornos de thriller político, o que é igualmente imersivo graças à interpretação dos atores e os diálogos esclarecedores.
Nossas impressões
Oppenheimer ultrapassa qualquer intenção de ser um mero drama com pano de fundo histórico, tampouco uma narrativa sobre o surgimento da bomba atômica. Isso tudo é um contexto para o que realmente importa: J. Robert Oppenheimer. O filme nada mais é do que um estudo e uma biografia do físico.
Esse detalhe tem sido bem debatido nos grupos dos aficionados pelos filmes de Nolan. O diretor é reconhecido pelos filmes de ação bem elaborados e histórias difíceis, com desdobramentos e plot twists imprevisíveis. Oppenheimer, em síntese, traz poucos desses elementos, o que é uma grande surpresa.
Em Oppenheimer, Nolan destaca outros aspectos, como a moralidade do personagem e as implicações políticas a partir do desenvolvimento da bomba. Em outras palavras, o filme é um laboratório particular do diretor, no qual tentou produzir algo fora do esperado. E conseguiu, com êxito.
Isto é, Oppenheimer não tem a pretensão de ser um chamariz de bilheteria. Pelo contrário, é um filme que foge aos padrões de blockbuster: é uma trama bem amarrada, complexa, com muitas idas e vindas no desdobramento da narrativa, e sem a menor pretensão de entreter o público. Mas, de igual maneira, é um longa que trata de fatos históricos que ainda são sensíveis ao debate e, como consequência, levanta questões morais e éticas.
Em suma, Christopher Nolan ultrapassou a meta de surpreender tanto a si quanto ao público, produzindo um dos melhores trabalhos de sua carreira cinematográfica.
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1 Comment
[…] Oppenheimer é o último trabalho lançado de Christopher Nolan, diretor conhecido pela trilogia de Batman Cavaleiro das Trevas (2005-2012), A Origem (2010), Interestelar (2014), Dunkirk (2017) e outros. O filme foi baseado na história de J. Robert Oppenheimer, físico teórico que foi um dos responsáveis pela criação da bomba atômica. Quem dá vida ao protagonista é Cillian Murphy (Peaky Blinders), e a trama traz o debate sobre o que aconteceu na história da humanidade, a partir da década de 40. E após assistir ao filme fica a dúvida: O que tem de real em Oppenheimer? Vamos te contar, mas, primeiramente, é importante explicar quem foi o físico. […]