Noite Passada em Soho promete mais do que cumpre
Olá, turners! O novo filme de Edgar Wright já está em cartaz e a dúvida que fica é: Noite Passada em Soho é tão bom quanto parece?
Gostaria muito de dizer que sim, mas a verdade é que, apesar de ter pontos positivos, a experiência não é tão incrível quanto poderia ser. E isso se dá pelas escolhas criativas, efeitos visuais e principalmente a falsa aposta que um grande plot twist seria suficiente para amarrar o filme. Não, não foi, mas ele está ali.
Mais do que só um filme de terror
De todo modo, ainda é cedo para entrarmos em detalhes, para quem não está familiarizado com a proposta, o filme busca homenagear icônicos filmes de terror como Reputation. A partir de um terror psicológico, Noite Passada em Soho nos apresenta Eloise (Thomasin McKenzie — Tempo e Jojo Rabbit), uma jovem mulher apaixonada por moda que se muda para Londres para seguir seu sonho. Já na cidade, misteriosamente ela consegue viajar até a década de 1960 e conhece Sandy (Anya Taylor-Joy — O Gambito da Rainha). Não demora muito para que Eloise se inspire na força e confiança de Sandy, em como ela corre atrás de seu sonho de ser cantora. Porém, a crueldade com as mulheres e a realidade dos anos 1960 se mostram logo, e essa admiração inicial se transforma em medo e choque.
Sem dúvida sua premissa é um dos seus maiores acertos, explorar o machismo inerente a década e a realidade sobre o passado que sempre idealizamos foi uma jogada fantástica. Escolha essa apenas ressaltada pelas incríveis atuações de Anya e Thomasin, que tornaram a premissa ainda mais interessante. De forma gradativa vamos do encantamento com uma época de lindas roupas, penteados e maquiagem, para uma realidade onde mulheres são usadas constantemente como objetos. Você quer ser uma cantora? Então, o que você pode dar em troca?
Duas Épocas e Duas Personagens
Um dos meus maiores elogios é a forma como conseguiram mostrar a dualidade dos dois tempos, as diferenças e as semelhanças que infelizmente ainda existem. Eloise e Sandy, apesar de muito diferentes à primeira vista, tem algo em comum: a vontade de ser mais do que são. Ainda que tenha variadas críticas não são em relação a elas, as duas personagens são extremamente interessantes, e ainda que Eloise não seja tão carismática quanto Sandy, é essa diferença que faz a trama ser instigante, nos deixando, pelo menos a princípio, interessados no que vai sair desse duo louco.
Com quase duas horas de duração, a apresentação das personagens no primeiro ato funciona muito bem, o problema está no desenvolvimento e principalmente no desfecho. Apesar da boa direção de Edgar Wright (Baby Driver), o enredo em si deixa pontas soltas, não constroe tão bem quanto poderia a trama, principalmente não explorando suficientemente os personagens secundários, e é mais cansativo do que deveria. Ao menos três personagens com grande potencial são completamente esquecidos e subutilizados.
Desfecho e Fotografia decepcionam
O desfecho, por exemplo, que era para ser o ápice do filme, é simplesmente decepcionante. Não era difícil prever, mas a questão não é essa. Ainda que fosse possível descobrir, todos os pontos que indicam esse final não são construídos como narrativa. Na verdade, eles aparecem como peças soltas de um quebra-cabeça que quando finalmente montamos…parece errado. Já que no momento da revelação a sensação que fica não é de surpresa, ou choque, mas sim ausência de algo, de desenvolvimento, de construção…
Ademais, a fotografia das partes cheias de luzes, por exemplo, é algumas vezes excessiva, principalmente para quem tem muita sensibilidade à luz, ou tem epilepsia. Sabiamente o filme avisa sobre isso, mas acho relevante trazer aqui. Apesar da intenção ser de fato o desconforto, ele é extremo demais e desnecessário, já que Euphoria mostrou que é possível fazer isso de forma mais leve. Dessa maneira, o que deveria causar um desconforto, e talvez um encantamento com o jogo de luzes, pode virar facilmente uma dor de cabeça. Isso sem falar de alguns dos efeitos visuais que deixam a desejar não causando o medo que deveriam.
Já a música e a cidade…
Por outro lado, a trilha sonora do filme é muito bem escolhida e utilizada, é a música, junto a uma fotografia e direção bem sincronizadas, que faz os anos 60 tão reais e, ao mesmo tempo, o que explica o encantamento de Louise com a época. É impossível não assistir e em parte não querer conhecer e explorar um pouco mais de Soho, apesar de toda trama de suspense e terror que o filme envolve.
Exibido no Festival de Veneza, Noite Passada em Soho tem atualmente 75% de aprovação no Rotten Tomatoes, muito provavelmente por conta de tantos pontos positivos. Contudo, nem mesmo uma boa trilha sonora, arte, e elenco são suficientes para esconder falhas de roteiro e montagem que atingem diretamente a experiência.
O elenco também conta com Matt Smith (The Crown), Terence Stamp (Priscilla, a Rainha do Deserto), Diana Rigg (GOT) e Margaret Nolan (007 Goldfinger). Dessa forma, o filme contém as últimas aparições de Rigg e Nolan, que morreram em 2020.
Noite Passada em Soho já está disponível nos cinemas brasileiros.
Enfim, apesar dos problemas, recomendo a obra para os amantes do cinema de terror britânico, thrillers psicológicos e o terror em geral. Mesmo que tenha suas falhas é sempre bom tirar suas próprias conclusões, que tal depois de fazer isso comentar aqui para conversarmos um pouco?
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