Pisque Duas Vezes de Zoë Kravitz é bom?
Pisque Duas Vezes é um daqueles filmes que você não sabe bem o que esperar. Com apostas ousadas como Channing Tatum de vilão e Zoë Kravitz estreando no papel de direção, a impressão era que, das duas uma, ou o filme seria ótimo, ou um total fiasco. Para a nossa sorte, ficamos com a primeira opção.
A já reconhecida atriz, de títulos como The Batman e Big Little Lies, surpreende entregando um suspense psicológico intencionalmente angustiante e bem construído. Ainda que tenha suas falhas, o longa cumpre o que propõe, nos impactando com a jornada e o final da narrativa.
Com uma premissa inicial digna de uma comédia romântica que deu errado, conhecemos a garçonete Frida (Naomi Ackie), uma jovem que quer a todo custo deixar de ser invisível. Assim, quando seu caminho cruza com o eye candy bilionário da tecnologia: Slater King (Channing Tatum) em uma festa, ela não pensa duas vezes e aceita o convite para passar férias na ilha particular dele.
Além dos dois, juntam-se também na viagem atrizes, modelos, outros empresários e a melhor amiga de Frida, Jess (Alia Shawkat), que garante momentos de alívio cômico na narrativa inicial. No entanto, ainda que a ilha seja um sonho de consumo, desde o início fica no ar que algo não está certo ali.
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Afinal, que mulher se sente realmente segura presa com um grupo de homens desconhecidos?
Usando um medo compartilhado por muitas mulheres, essa sensação é construída a partir de um trabalho conjunto entre fotografia, cenografia, roteiro e direção. Com cores vibrantes, comidas de alto nível e momentos de pura diversão, tudo é perfeito demais. Tão bom para ser verdade, que de cara sentimos que algo ruim está prestes a acontecer, mas o quê?
Cabe ao roteiro e direção de Zoë Kravitz nos conduzir para um caminho cheio de perguntas e questionamentos. Sendo parte da magia, nos dar pistas que nos levam a tentar adivinhar o que está de realmente acontecendo nessa ilha.
Com referências à mitologia grega e críticas sociais, o enredo é instigante e muito bem construído. A ponto de que, mesmo não sendo tão surpreendente assim, ainda consegue nos impactar pela forma como escolhe contar essa história. Pisque Duas Vezes usa nossa própria realidade para criar seu terror, mostrando que monstros como o do filme não são tão diferentes dos que sabemos que existem na vida real.
Assim, ainda que não tenham explorado todas as possibilidades, Zoë Kravitz faz uma boa estreia como diretora. Nos lembrando um pouco de Jordan Peele, ela entrega uma trama intrincada em questões sociais sérias para questionar e criticar tanto as classes mais abastadas quanto o patriarcado.
Pisque Duas Vezes não é perfeito. O filme apresenta atuações medianas — como a de Channing Tatum, por exemplo — e algumas escolhas criativas questionáveis. Mesmo assim, ele consegue cumprir seu propósito com um saldo positivo, revelando-se uma boa surpresa e promessa para o futuro de Zoë Kravitz na direção.
Mal posso esperar para ver o próximo projeto dela, e você?