Crítica Meu Amigo Pinguim | História brasileira inspira novo filme
Meu Amigo Pinguim é um daqueles filmes especiais. Ele pode até não ser um dos títulos mais esperados do ano, mas sem dúvida vale a pena colocar na lista. Baseado em uma história real brasileira, o longa dirigido por David Schurmann (Pequeno Segredo) é simples, mas tocante, um daqueles filmes que fazem você acreditar um pouco mais na humanidade.
Desvendando a sinopse:
Com uma fotografia belíssima, conhecemos a história da amizade entre o pescador João, de Ilha Grande, Rio de Janeiro e DinDim, um pinguim argentino, que esbarra na vida do brasileiro de um jeito muito marcante. Tudo começa quando João encontra o pinguim encharcado de óleo e em risco de morte.
Ele poderia não ter feito nada e seguido sua vida, mas escolhe salvar esse bichinho, que devolve esse cuidado voltando para visitá-lo todo ano pelos oito anos seguintes. Embora João seja uma parte importante da história, o foco está, na verdade, em DinDim.
Acompanhamos sua trajetória antes de conhecer seu amigo pescador e durante a formação dessa amizade. Como o filme não foca exclusivamente no período dele em visita, lugares fantásticos também são retratados, como a Patagônia, que trazem cenas muito bonitas.
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O filme é brasileiro?
Apesar da história real ser, Meu Amigo Pinguim é uma produção norte-americana com um elenco global. Jean Reno, o ator que interpreta o protagonista é francês, por exemplo, enquanto quem dá vida a sua esposa é Adriana Barraza, uma atriz mexicana.
O elenco também inclui atores brasileiros, como Duda Galbão e Thalma de Freitas, mas o idioma do filme é inglês. Isso pode parecer estranho para uma história brasileira, especialmente com cenas gravadas aqui, porém é compreensível considerando o alcance global dessa língua.
Por que vale a pena assistir?
Embora tenha um ritmo lento, Meu Amigo Pinguim traz uma trama muito inspiradora. João (Jean Reno) é homem solitário, que após uma tragédia se afastou do mundo e só se encontrou novamente com a chegada desse pinguim.
Se eu tivesse que dar uma razão para assistir, seria essa: é uma história sobre esperança, tanto na vida quanto no mundo. Vemos que o mesmo ser humano capaz de destruir também pode fazer a diferença, se assim escolher. E em um mundo com tantas coisas ruins uma história desse tipo dá uma dose de alegria enquanto nos chacoalha nos lembrando das nossas próprias responsabilidades.
No entanto, esse não é o único aspecto inspirador, a forma como DinDim ajuda João a superar seu trauma é muito bonita. Tudo que o pescador precisava era de um propósito aliado ao carinho de alguém que visse além do seu trauma e o pinguim acabou se tornando exatamente o que ele precisava.
Por trás dessa inspiração:
Sim, essa história é muito interessante, mas um dos motivos dela funcionar tão bem é o elenco. Jean Reno, como João, entrega um trabalho incrível. Ele nos transmite todos os sentimentos do personagem, do luto a esperança com a chegada de DinDim.
Adriana Barraza, no papel de Maria, é outro destaque. Com uma personalidade mais serena, ela contribui significativamente para a construção da narrativa, trazendo uma interpretação muito verdadeira.
Por último, quero destacar os pinguins. Ao contrário de muitas produções do tipo, essa usa animais reais na maior parte das suas cenas. A escolha torna o filme mais real e permite cenas muito interessantes mostrando a perspectiva do próprio pinguim.
Isso é possível graças a parceria do filme com Aquário de Ubatuba (SP), o Oceanic Aquarium, em Balneário Camboriú (SC) e o Instituto Argonauta para a Conservação Costeira e Marinha. Enquanto os dois primeiros aceitaram que seus pinguins participassem do projeto, o terceiro colaborou treinando os animais antes das filmagens.
O que poderia ser melhor?
Cenas gravadas no Brasil
Grande parte das cenas se passa no Brasil, o que dá um tom de familiaridade interessante para o público brasileiro, mas também um certo estranhamento. Pois, se você conhece a região, logo vai perceber que o local que a história se passa não é onde eles dizem que o filme se ambienta.
Embora João seja de Ilha Grande, fato até mencionado no longa, as cenas foram gravadas em Paraty e Ubatuba. Muito provavelmente a escolha vem da dificuldade de gravar na ilha, o que é uma pena já que o lugar é lindo e poderia dar sequências mais autênticas para a produção. Já que foi ali que a história realmente aconteceu.
Todo o Arco da Patagônia
Ainda que o filme tenha pontos positivos, ele perde um pouco o ritmo com as cenas passadas na Patagônia. A ideia é boa, pois nos dá perspectiva do que aquele pinguim faz no restante do ano e da importância da sua liberdade, mas também traz um ponto de vista pouco realista dos pesquisadores.
Considerando a importância deles e sua pouca valorização, a maneira como eles são retratados é superficial e pode causar certo estigma na classe nos olhos do público geral, que sabe pouco sobre como esse universo funciona.
Além disso, essa alternância de cenários atrapalha um pouco a construção da narrativa de João. Embora seja importante para explicar certos acontecimentos, essa abordagem poderia ter sido apresentada de outra maneira. No entanto, ainda recomendo assistir para tirar suas próprias conclusões.
Meu Amigo Pinguim estreia nos cinemas brasileiros em 12 de setembro.
Pensando em assistir? Me conta suas impressões depois.