Por dentro da Masterclass com Beto Skubs
Na última terça-feira, 16 de julho de 2024, tive o prazer de participar de uma Masterclass gratuita com o roteirista e produtor Beto Skubs. Para quem ainda não conhece esse nome, ele tem trabalhos bastante relevantes no setor audiovisual aqui, no Brasil, e também em Hollywood.
Da Globo ao hit mundial Grey’s Anatomy, Beto veio compartilhar nesse evento um pouco da sua experiência e trajetória. Lembra do episódio com a família brasileira de Grey’s Anatomy? Ele foi roteirista dele (14º episódio da 18ª temporada)!
O evento, realizado pela plataforma de audiovisual Transforma, junto da Casa Firjan, tinha como objetivo, como todos os outros eventos da empresa, promover especialização e networking para profissionais do mercado audiovisual. Proposta essa alcançada com total sucesso!
De Piracicaba para o mundo: A Jornada de Beto Skubs
Durante duas horas de um bate-papo muito descontraído e inspirador, Beto compartilhou sobre sua vida e nos contou sobre como sua trajetória não foi fácil ou um sonho, como muitos podem pensar.
Vindo de uma família pobre, transformar a vontade de escrever roteiros em uma profissão remunerada levou tempo. Para alcançar isso, ele precisou de muita determinação e foco para se tornar o melhor profissional que poderia ser.
Nessa trajetória, dois incentivos públicos foram fundamentais para ele chegar onde está hoje. O primeiro trabalho remunerado dele narrando histórias veio ao ganhar um edital para publicação de uma história em quadrinhos. Nesse contexto, ele e os participantes destacaram a importância de deixar o orgulho de lado e adaptar seus projetos a outros formatos para torná-los realidade.
Já a sua segunda oportunidade, veio através da bolsa de mestrado da CAPES/Fullbright, que permitiu que ele estudasse roteiro na UCLA, uma das melhores faculdades da área do mundo. Lá ele estudou o máximo que pode, fez matérias até de esferas diferentes, como direito e teatro, que o ajudaram a ter mais repertório e tirar o máximo de proveito daquela oportunidade que ele recebeu.
Terminado o mestrado ele precisou retornar ao Brasil e contribuir com o mercado audiovisual brasileiro, o que ele fez antes de retornar para os EUA, como contrapartida da sua bolsa.
Hollywood vs. Brasil
Apesar de Beto ser o ponto de destaque no evento, suas experiências não foram as únicas a enriquecer a discussão. A roteirista, diretora e educadora, Maíra Oliveira, também participou do bate-papo e trouxe uma perspectiva comparativa muito interessante.
Enquanto Beto pôde nos ensinar sobre o mercado audiovisual de Hollywood, Maíra trouxe um contraponto ao apresentar sua experiência com o audiovisual brasileiro. Entre os pontos que vale destacar está como, no mercado brasileiro, a prática acaba formando mais do que a teoria.
Visto que o mercado ainda não é tão estruturado e varia muito de local para local. Por exemplo, cargos e funções ainda são muito confusos e podem ser bem diferentes de acordo com o projeto que se está no momento.
Não que em Hollywood a prática também não seja essencial, mas os cargos e a estrutura de trabalho é mais padronizada. Sendo assim, a maneira de trabalhar e as características de cada cargo variam, menos de trabalho a trabalho. Vale destacar que lá também existem problemas; a baixa remuneração é uma questão importante que o sindicato lutou para apaziguar, mas que ainda persiste.
Da entrada no mercado até Grey’s Anatomy
Talvez a pergunta mais importante da noite. Ela veio depois de uma troca gostosa e super bem-humorada. Apesar de o evento ter reunido mais de sessenta pessoas, a impressão que dava era que você estava em uma roda de amigos.
Com piadas e um papo honesto, Beto contou para a gente que seu primeiro trabalho pago como roteirista nos EUA veio através de uma ponte entre a UCLA e a Sony. A empresa financiou uma sala de roteiro e, ao final dela, decidiu comprar um roteiro dele para uma série.
Feito isso, ele precisou se associar ao sindicato, o que é obrigatório nos EUA para a profissão, que lá, diferente daqui, é regulamentada, e então começou sua trajetória profissional.
A experiência de Beto em Grey’s Anatomy
Essa experiência veio como uma surpresa para ele, que estava trabalhando com ficção científica na época. A showrunner o convidou, pois precisava de um roteirista latino, já que ainda não tinha nenhum roteirista nesse perfil.
Ser um homem hétero também ajudou, pois como grande parte dos roteiristas da sala de roteiro de Grey’s são mulheres, a perspectiva dele era o que estava em falta para melhor escrever os personagens masculinos. A lição dada por ele aqui é que toda a nossa trajetória é importante.
A diversidade é levada a sério e faz diferença na hora de escrever seus personagens. Outra coisa importante de ter em mente é que existe oportunidade para roteiristas de televisão lá, já que as salas de roteiro costumam reunir em média de catorze ou mais profissionais.
Não que o trabalho de um roteirista se resuma a escrever. Em Grey’s Anatomy, ele é um roteirista produtor, o que significa que, além de escrever, ele também tem o papel de acompanhar reuniões e gravações para controlar o tom das cenas e evitar desvios. Ou seja, a ideia é ser um apoio para os diretores e para a showrunner.
Dicas para profissionais da área
Além de contar sua trajetória, Beto também deu conselhos e dicas importantes para quem trabalha ou quer trabalhar no setor:
#1: Foque em melhorar como profissional: deixe trabalhos gratuitos que não vão te levar a lugar nenhum de lado e foque em se tornar um artista cada vez melhor.
#2: Não trabalhe de graça: não escreva a bíblia ou episódios da sua série antes de vendê-lo. Seu foco deve estar em fazer seu trabalho ser remunerado, seja por um edital ou compra direta.
#3: Lembre-se que seus personagens são mais importantes: sua narrativa deve sempre apoiar seu personagem e não o contrário.
#4: O mercado americano também tem problemas: seja a relação abusiva de agentes ou o pagamento baixo de profissionais, tudo isso também acontece nos EUA. Enfim, não busque esse sonho sem estar ciente disso.
#5: Não tenha medo de se vender: não é só a sua história que deve conquistar, mas o porquê tem que ser você a escrevê-la.
Com dedicação e foco, tudo é possível. Espero que este relato tenha inspirado você, tanto quanto participar da Masterclass me inspirou. Quem sabe, nos encontramos em alguma sala de roteiro nos EUA? Até lá!
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