O que o reboot e a série original de Gossip Girl têm em comum?
O reboot de Gossip Girl acaba de estrear na HBO Max e a pergunta que não quer calar é: ela faz jus a original? Será que é melhor? Enfim, pensando nisso, a Turn assistiu os primeiros episódios e comparou as duas séries. Afinal, o que o reboot e a série original de Gossip Girl têm em comum?
Entendendo o sucesso da original
O ano era 2007 e se você era adolescente viveu ou se lembra do sucesso de Gossip Girl. Inspirado em uma série de livros, o hit adolescente, dos mesmos produtores da icônica The O.C., logo deu o que falar por seus personagens carismáticos, complexos e se a gente for honesto com uma índole duvidosa. Tudo isso com uma pitada de humor, romance, mistério e o principal elemento de todos: fofoca!
Com uma proposta com um tom diferente dos livros, a série marcou por apresentar uma realidade glamourosa, mas ao mesmo tempo imperfeita da vida dos adolescentes. Dessa maneira, a série nos chamava atenção por todo aquele mundo desconhecido, porém nos fazia ficar pela luta constante dos personagens, fosse para se encaixar, ser amado, ou mesmo lidar com problemas familiares.
Críticas a original e o Reboot de Gossip Girl
Porém, apesar da série ter sido um sucesso, ela também é alvo de críticas até hoje, minhas inclusive, pela romantização de temas importantíssimos como relacionamentos abusivos, estupro, assédio, entre outros. É certo que a proposta sempre foi apresentar um mundo onde as regras não se aplicam e que por isso mesmo só a Gossip Girl poderia controlá-los, mas ainda assim isso poderia ter sido feito sem romantização.
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Além disso, a representatividade da série é quase nula e completamente incoerente com a cidade de Nova York, onde Gossip Girl se passa. Assim, o reboot vem com a proposta de resolver parte desses problemas com uma série mais representativa e diversa, mas mantendo a fofoca como o fio condutor de toda a trama.
https://www.youtube.com/watch?v=dBrmHpGnrDw
O Reboot versus A Original
Mas afinal, o que o reboot herdou da original?
Para todos que acompanharam a série, atire a primeira pedra quem não queria conhecer os lugares que a série utilizou para contar sua história. Desde a primeira cena com Serena chegando no Grand Central Terminal, ou as cenas icônicas de Blair nas escadas do MET, verdade seja dita a cidade sempre foi uma das partes mais relevantes da trama.
Dessa maneira, não podia ficar de fora do reboot. Nossas queridas escadas, e as escolas, seguem aparecendo constantemente entre os episódios, mas infelizmente a cidade em si não participa tanto quanto costumava.
Ainda temos todo o luxo, as festas exclusivas, cenas na rua, o que falta mesmo são mais momentos e lugares icônicos fazendo parte do enredo. Quem sabe daqui a mais alguns episódios… Contudo, é bem legal ver a série referenciar a sua antecessora através de lugares, personagens, ou cenas específicas sem transformá-los em muletas para sua própria trama.
Um dos melhores exemplos é a cena inicial que também usa de um trem e uma jaqueta, como a cena inicial da Serena, porém de uma forma completamente diferente. O que demonstra certa originalidade, mas ao mesmo tempo respeito ao que veio antes. Além disso, para uma melhor adaptação aos tempos de hoje, muitas coisas tiveram que ser alteradas.
Instagram versus Mensagens de Texto
Talvez uma das mais relevantes seja a abordagem das redes sociais. Não que elas não estivessem presentes na original, mas elas entram de uma forma mais intensa e condizente com o momento atual.
Enquanto na original a história girava em torno de uma vida marcada por celulares, troca de SMSs e blogs, agora o foco é outro. O reboot mergulha no universo das aparências usando, é claro, o Instagram como ferramenta essencial de controle e influência desses jovens.
Para potencializar ainda mais isso, tanto a Gossip Girl quanto os outros personagens da série tem contas reais no instagram. Além de um número para receber mensagens, para que os fãs possam acompanhar e participar dos acontecimentos de um jeito similar ao que Skam fazia. Porém, apesar da proposta ser muito interessante, não tem sido utilizada de forma significativa.
A Nova Garota do Blog
Ainda seguindo a mesma lógica, o reboot inova apostando numa versão bem diferente da Gossip Girl original. O mistério antigo sobre quem seria e quais seriam os objetivos reais da fofoqueira são substituídos por um desejo de controle e reparação de um grupo de personagens apresentados desde o início.
A ideia é deixar claro que estamos lidando com outra Gossip Girl e afastar um pouco da original, o que consegue fazer mais de um jeito menos interessante e instigante. Por conta dos personagens pouco carismáticos e caricatos, uma das maiores diferenças com a original e uma das maiores desvantagens.
Apesar de sabermos quem é a Gossip Girl, a presença dos outros alunos no envio das fofocas não mudou, a única diferença é que agora ela acontece via Instagram e não por mensagens de texto. O que ajuda a ambientar mais a história atualmente, mas que tira um pouco o glamour por trás do acompanhamento constante da garota do blog.
Personagens e Enredo
Nas duas versões a trama começa com a chegada de uma nova menina à escola. Na original é o retorno da Serena que mexe com toda a organização social e relacionamento do grupo, no reboot esse papel é de Zoya, meia irmã de Julien. Apesar de ser possível identificar traços e influências de personagens conhecidos, no reboot as personalidades se mesclam.
Julien
Dessa forma, a personalidade de Julien, é uma mistura entre Serena e Blair. Pois apesar dos problemas Julien se preocupa com a irmã e quer ser amiga dela, ainda que nem sempre faça por onde.
Sua semelhança com Blair é fácil de perceber por como está disposta a manter as aparências e ser um ícone social não só na escola, mas nas redes sociais. Essa dualidade é importante para entender como ela se relaciona com o grupo e como pode ser facilmente influenciada por quem está à sua volta.
Zoya
Uma diferença interessante é que diferente da original a nova aluna da escola não é ao menos inicialmente um risco para hierarquia social. Por ser mais nova, pobre, bolsista e vinda de outra cidade Zoya, que é claramente um mix entre Serena e Jenny, vira alvo da Gossip Girl e dos outros alunos da escola por conta do seu parentesco com Julien e novos acontecimentos, diferente de Serena, que chamava atenção pela garota que as pessoas costumavam conhecer antes dela retornar a cidade.
Porém, seu passado desconhecido, sua personalidade e interesse por Obie, o nosso Dan/Nate, nos lembra bastante a Serena. Só que dessa vez uma Serena que se parece também com Jenny por sua classe social, por onde mora e sua relação com o pai que, assim como Ruffus, se preocupa e está presente na vida da filha.
Audrey
Nossa outra Blair é Audrey, nela não vemos o lado social da Queen B., mas sim a perspectiva mais delicada, romântica, perfeccionista e insegura de Blair. Enfim, as duas tem estilos e gostos parecidos em relação à moda e à literatura. Além de serem pegas de surpresa pelo interesse súbito e irresistível pelo amigo que, é ao menos na superfície, o exato oposto dela.
Embora muitas coisas tenham mudado, tanto Audrey quanto Julien estão em relacionamentos superficiais, como o de Blair e Nate, por questões de aparência e/ou comodidade. Enquanto lutam em parte contra suas próprias vontades e sentimentos.
Além disso, seu pai também foi embora e, apesar da relação com a mãe ser similar, pela busca e necessidade de atenção, é completamente diferente na escolha dos plots. Ou seja, não tem nenhuma Dorotha nessa trama (Infelizmente).
Max
Com os personagens masculinos é um pouco diferente, o favorito do público e do meu coração, também conhecido como Max, é claramente uma versão do Chuck modernizada. Ele é estiloso, observador e abusivo tanto com relacionamentos quanto com as drogas, para ele o limite não existe exatamente como era para o Chuck.
A diferença é que desde o início fica claro o quanto esse comportamento faz mal a ele e essa pode ser a chance do reboot corrigir os erros da original e não romantizar um personagem abusivo. Ainda é cedo para dizer, mas até o momento a série tomou algumas decisões questionáveis quanto a isso, então teremos que aguardar pra ver.
Aki
Um dos personagem menos desenvolvido até agora é Aki e por isso é mais difícil fazer conexões, mas até ele carrega alguns traços do Nate. Os dois estão em momentos confusos das suas vidas e não são completamente honestos sobre os seus sentimentos.
O maior exemplo dessa conexão é a atração e os sentimentos que sentem por outras pessoas, ainda que não admitam. Enfim, eles preferem manter relacionamentos que não condizem com seus sentimentos atuais a ser realmente honestos com seus parceiros.
Obie
Já Obie é uma mescla entre Dan e Nate. Obie é rico, o suposto garoto “perfeito”, em um relacionamento de aparência, que ele não gosta, mas não se esforça realmente para sair, ao menos inicialmente. E quando o faz, se comporta bem como Nate, com zero responsabilidade afetiva com sua antiga parceira de relacionamento.
Por outro lado, não se sente parte desse mundo privilegiado como Dan, apesar de rico, ele vai à manifestações, se posiciona de forma contrária aos pais e não vê sentido em gastar dinheiro em coisas fúteis.
É com ele também que o cansativo triângulo amoroso/rivalidade feminina retorna, dessa vez estrelando Julien, Zoya e Obie, ao invés de Serena, Blair e Nate. Sim, toda a rivalidade é suavizada, mas ela segue presente. Ainda repetindo elementos vistos na original: o interesse romântico comum, uma disputa social e conflitos do passado.
Monet e Luna
Essa rivalidade, porém é incentivada e guiada principalmente por Monet e Luna, duas amigas de Julien, que temem que a nova Julien, inspirada por Zoya, estrague o trabalho das duas de construção da imagem dela como influencer.
É interessante, pois ambienta de novo a trama nos dias de hoje. Ao contrário das personagens na série original que mal tinham falas, aqui elas ganham relevância. Contudo o desenvolvimento das duas ainda é superficial e insuficiente.
Primeiras Impressões sobre o Reboot
De certa forma, toda essa mescla de personagens é boa porque mantêm parte da essência da série sem se tornar uma cópia. Porém, em excesso soa como uma colcha de retalhos, construindo personagens que parecem familiares demais e pouco carismáticos, tudo isso somado a um enredo fraco, como foi até o momento, não colabora para que o reboot agrade tanto quanto sua antecessora.
Apesar de evitar piadas sexistas e homofóbicas, o enredo ainda romantiza temas como bullying e relações entre aluno e professor. Existem poucas consequências, além da eterna perseguição da Gossip Girl, para o que eles fazem. E sim, ainda faz parte da premissa eles serem intocáveis, mas o que sempre fez a série interessante era a capacidade de atingir os intocáveis de alguma forma.
Dessa maneira, analisando tudo que já foi ao ar, por enquanto a original segue sendo melhor por sua identidade, melhor enredo e personagens mais emblemáticos.
Enfim, o reboot traz algumas boas reflexões e mudanças extremamente importantes, mas nada bom o suficiente para torná-la melhor, falta ainda um enredo mais coeso, diálogos mais naturais e um maior desenvolvimento das camadas e carismas desses personagens.
De forma resumida, a trama precisa se tornar menos superficial, o que tem capacidade de fazer se investir nos personagens certos. As poucas cenas com Max, Audrey e Aki até agora são um grande sinal disso, nos resta esperar pra ver o que eles planejaram!
E aí já viram o reboot de Gossip Girl e a original ? Qual delas você prefere?
As duas estão disponíveis no streaming HBO Max.