Wes Craven: A Lenda do Terror Slasher
Mesmo que você nunca tenha ouvido falar o nome de Wes Craven, você COM TODA CERTEZA já ouviu falar das suas obras de terror slasher e de seus personagens icônicos como Freddy Krueger, de A Hora do Pesadelo, e claro, do nosso querido Ghostface, de Pânico. Mas antes de abordarmos seus maiores sucessos, vamos explorar primeiro suas origens e entender como foi que ele conseguiu revolucionar o gênero de terror.
Confira nossa crítica: Pânico 6 promete e entrega TUDO!
Voltando ao início
Wesley Earl Craven, nasceu em Cleveland, Ohio, em 2 de agosto de 1939. Como era filho de pais religiosos e conservadores, não podia ver filmes de terror quando criança, o que parece ironia considerando o rumo que escolheu.
Mais velho, se formou em psicologia pela Wheaton College e obteve um mestrado em Filosofia pela Johns Hopkins University. Atuou como professor universitário por um tempo, mas decidiu renunciar ao cargo e ir atrás da sua carreira de cineasta.
E, assim, se juntou a Sean S. Cunningham para conseguir um emprego na indústria do soft porn, o que ajudou a não ter pudor para os elementos pesados em seus filmes. Assim, mais tarde, se tornou parte da sua receita para atrair jovens para os gêneros de terror.
“Eu disse a Cunningham que não sabia fazer filmes de terror e ele me disse para procurar os esqueletos no meu armário.”
Craven em entrevista para a série documental Bergman’s Video (2012).
Vale lembrar que Craven nunca quis, de fato, seguir carreira do gênero de terror, na verdade, almejava era mesmo o gênero de drama. No entanto, as coisas acabaram seguindo outro rumo…
Os anos 70 e as mudanças na indústria cinematográfica
Nos anos 70, houve uma mudança no cenário cinematográfico, principalmente no terror. Foi nessa década que nosso querido slasher “nasceu”. Para você, meu caro turner, que ainda não está familiarizado com esse termo, eu explico brevemente.
O Slasher é um subgênero do terror, no qual temos um assassino em série mascarado que está caçando um grupo de jovens, matando um por um. Podendo acontecer em um cidadezinha, acampamento ou em uma pequena cabana isolada na mata. A questão é que durante anos as regras foram se aperfeiçoando, virando uma grande receita de clichê, seguido até hoje e que não vivemos sem.
Outra informação importante, que você logo vai entender porquê está aqui, é que foi nessa época também que o Blaxploitation entrou em cena. Este era o termo usado nos anos 70 para a indústria cinematográfica formada por e para negros.
“Uma união entre os conceitos da palavra negro em inglês black e ‘exploração’. Que é usado para definir os filmes negros da década, fossem terrores ou não.”
Robin Colleman
Grande parte dos filmes eram inspirados nos movimentos Black Power e colocavam o negro como protagonista do gênero, já que os blockbusters não faziam isso.
Mas o que isso tem a ver com Wes Craven?
Os anos 70 também foi um período em que jovens diretores estavam ganhando voz e reagindo contra os grandes estúdios. Devido a uma crise na indústria durante os anos 60, muitos diretores tomaram iniciativa e decidiram investir seu próprio dinheiro em seus projetos. Assim, buscando independência dos estúdios enquanto produziam um conteúdo de qualidade artística para além de blockbusters.
Com esse cenário, novos diretores surgiram e alguns deles até se consolidaram na indústria.
Wes Craven foi um deles
Como diretor, Craven fez sua estreia com The Last House on The Left (1972), um filme muito questionado por ser muito pesado, já que aborda temas de estupro, vingança e assassinato. Para vocês terem uma noção, nem mesmo o próprio Wes Craven assistiu.
“Não, não, eu não assisti. Não é agradável assistir. O sofrimento parece muito, muito real. Isso significa. Os bandidos são mesquinhos e muito pessoais...”
Craven para a entrevista ao The Front.
Esse primeiro filme foi polêmico, deu o que falar, para não dizer o mínimo, mas apesar do baixo orçamento e de inúmeras outras críticas, foi o suficiente para Craven ser notado e ganhar uma reputação no gênero.
Wes também foi responsável pelo The Hills Have Eyes (1977), seguindo a mesma linha de violência do último filme. E, dessa vez, encontrou opiniões divididas, mas o suficiente para manter seu nome em evidência e fazer sua pequena fortuna.
Deadly Blessing (1981) com Sharon Stone, e Swamp Thing (1982) são alguns dos filmes que Wes dirigiu ainda seguindo a linha de terror. Mas em 1990 mudou um pouco de área, experimentando um pouco do gênero de drama no filme Music of the Heart, que rendeu à atriz Meryl Streep uma indicação ao Oscar.
Não se pode negar que Craven era um cara determinado e criativo, um artista nato que consegue trabalhar com o pouco que é dado. Sempre se inspirando em situações reais da sociedade para suas criações.
Wes Craven e sua constante fonte de inspiração
No final dos anos 80, Craven engata na trama de zumbi com o The Serpent and the Rainbow (1988), inspirado em elementos baseados em fatos reais do livro de Wade Davis, onde um cientista americano estuda o caso de aparecimento de dois zumbis no Haiti.
Na obra de Wes, vemos essa história ser conduzida com uma pitada sobrenatural e efeitos especiais, nos mostrando uma época de inquietação social e política no Haiti, plano de fundo para o enredo do antropologista Dennis Alan (Bill Pullman – Independence Day), que viaja em busca da droga milagrosa, usada em práticas de vodu, capaz de tornar suas vítimas em zumbis.
Quando Representatividade e Realidade se encontram no terror
Sua necessidade de mostrar a realidade abriu espaço não só para histórias de terror, mas para uma representatividade que não era vista nos blockbusters. Assim, bebendo da fonte do Blaxploitation, vemos personagens não brancos ganharem importância no enredo e se tornarem muitas vezes protagonistas.
Um bom exemplo é o filme The People Under the Stairs (1991), que apresentando mais tabus, Craven faz uma conexão com um caso real do final dos anos 70, onde dois ladrões invadiram uma casa em Los Angeles e consequentemente fizeram que a polícia descobrisse duas crianças presas por seus pais.
Craven também mostrou a luta entre as classes, além de fazer conexão com outro caso real do serial killer (agora mais conhecido, graças a Netflix) Jeffrey Dahmer, que caçava suas vítimas em uma comunidade pobre e não branca, além de levantar outros tabus como canibalismo, assassinato e privilégio branco.
Na trama de 1991, um menino negro chamado Fool (Brandon Adams) precisa ganhar dinheiro e ajudar sua mãe doente a pagar o aluguel, tentando ajudá-la ele entra na mansão dos ricos proprietários (Wendi Robie e Everett McGill) do prédio onde vive. No entanto, o que o menino não sabe é que nessa mansão vive um casal incestuoso capaz de muita brutalidade.
Apesar de esse ser um ótimo exemplo, está longe de ser o único. Wes também foi responsável por transformar Eddie Murphy em um Vampire in Brooklyn (1995) no qual contracenou com a nossa eterna rainha de Wakanda: Angela Bassett.
PS: Vale a pena compartilhar que o filme provavelmente ganhará um remake, produzido por ninguém menos do que o nosso querido Jordan Peele! Isso mesmo, o gênio por trás de filmes como Get out (2017) e Us (2019)! (Via Collider).
O Terror da Rua Elm
Não é surpresa para ninguém que A Nightmare on Elm Street (1984) foi um grande marco para a indústria cinematográfica. Nessa obra, tivemos nosso primeiro contato com um dos vilões mais irônicos e medonhos da cena.
Freddy Krueger tirava, e tira, o sono de qualquer um. O vilão fez tanto sucesso que teve direito a sequências. Entretanto, Craven só dirigiu dois de sete dos filmes da franquia.
O Terror da Rua Elm conta a história de Nancy Thompson (Heather Langenkamp), uma garota inteligente e que viria a se transformar na nossa final girl da vez. Junto de seus amigos, Glen (Johnny Depp), Tina (Amanda Wyss) e Rod (Jsu Garcia) descobrem que estão compartilhando o mesmo pesadelo com um homem deformado com garras nas mãos. Somente quando um deles é assassinado enquanto dormia que eles percebem o risco que estão correndo, e vão precisar ficar acordados até descobrirem como parar esse psicopata.
O filme se tornou um fenômeno, pela forma como mistura o real e o imaginário de uma maneira sombria e sanguinária, fazendo qualquer um perder o sono. Inicialmente a ideia surgiu de um artigo do Los Angeles Times, sobre uma família que sobreviveu aos campos de extermínio no Camboja. Eles conseguiram se mudar para os EUA, mas um jovem na família ainda tinha terríveis pesadelos quando dormia.
Wes Craven é tão bom no que faz que criou um vilão atemporal que, mesmo após duas décadas, segue sendo mencionado em diversos filmes e séries, como, por exemplo, em Stranger Things, Deadpool e até mesmo em Pânico.
A chamada “cultura nerd” tem feito esses clichês de terror não somente sobreviverem, mas também ganharem o devido respeito, tanto com o público quanto com a própria indústria.
Qual seu filme de terror favorito?
Claro que deixei o meu favorito para o final, turners!
Muito que bem, a história se passa na pequena cidadezinha de Woodsboro, onde nossa protagonista, Sidney Prescott, (Neve Campbell) ao lado de seus amigos, Tatum (Rose McGowan), Randy (Jamie Kennedy), Stu (Matthew Lillard) e seu namorado Billy (Skeet Ulrich) se veem ameaçados por um assassino mascarado que testa o conhecimento deles sobre filmes de terror antes de matá-los.
O filme conta também com David Arquette, como o policial Dewey Riley, Courteney Cox como a jornalista Gale Weathers e Drew Barrymore como uma estudante. Criado e dirigido por Wes Craven e com o roteiro de Kevin Williamson, a trama rendeu mais de cinco filmes, conquistando o mundo todo.
Mas você sabia que Pânico também foi baseado em fatos reais?
Kevin Williamson escreveu a trama baseando-se em um recente crime da época: “O Estripador de Gainesville”, nome dado a Daniel Harold “Danny” Rolling após assassinar brutalmente cinco estudantes em Gainesville, Flórida, em 1990.
Apesar da base triste, Pânico revolucionou a cena do gênero nos anos 90, conquistando o público logo de cara e se tornando um sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, fato incomum para filmes do gênero slasher.
Com um elenco carismático, humor nas horas certas e diálogos inteligentes, o filme nos conquista aos poucos, nos fazendo gostar de certos personagens, suspeitar de alguns e torcer para não serem mortos ao final. Quem nunca se pegou criando teorias mirabolantes tentando descobrir quem está por baixo da máscara do Ghostface? Parte do que atrai tanto no filme é que temos liberdade para sermos os detetives da vez.
Também não posso deixar de citar o clichê que nós amamos, a fórmula mágica que faz os filmes slashers ganharem vida: as regras de sobrevivência. Todo grupo de adolescentes estereotipados que se preze sabe das regras, mas nunca sobrevivem por não segui-las.
Enfim, tem dado tão certo que o filme rendeu mais cinco filmes e uma série.
Pânico sem Wes Craven?
Sam (Melissa Barrera) e Danny (Josh Segarra) Pânico 6 @Paramount Pictures – Divulgação.
Entretanto, Pânico 4 (2011) foi o último trabalho de Craven, que não participou dos últimos dois filmes da franquia. A lenda do terror slasher faleceu em 2015 aos 76 anos, vítima de um câncer cerebral.
Apesar de sua morte, o legado de Wes Craven se mantem na marca que ele deixou em várias gerações, criando uma legião de fãs que admiram o seu trabalho.
“Wes Craven revolucionou o horror três vezes em três décadas diferentes, com The Last House on the Left na década de 1970, A Nightmare on Elm Street na década de 1980 e Scream na década de 1990. Seria incrível se você pudesse fazer isso apenas uma vez na vida”
José Mellinas
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