A animação Belle e a vida no mundo virtual
E aí, Turneiros? Como estão? Hoje vamos falar do mais recente lançamento do diretor e roteirista: Mamoru Hosoda, a animação japonesa Belle, que construiu uma atual e inteligente releitura do clássico A Bela e a Fera. Tudo isso unindo as questões atuais de uso da tecnologia e da internet a uma história sensível e tocante. Curioso? Também fiquei!
Mas enfim, para quem não conhece, Mamoru Hosoda é um experiente e conhecido diretor e roteirista com um currículo longo em animações japonesas. Ele dirigiu, por exemplo, Digimon – O Filme e Dragon Ball Z: O Retorno do Guerreiro Lendário, isso apenas para trazer alguns dos trabalhos mais conhecidos de nós brasileiros.
Além disso, também vale ressaltar que Belle marcou presença no 74º Festival de Cinema de Cannes, tendo sido aplaudido de pé por nada menos que 14 minutos, então já dá para imaginar que vem coisa boa por aí, né? Se interessou? Continua comigo.
Como é essa História?
A animação Belle conta a história de Suzu, uma menina tímida e retraída que encontra dificuldade em se expressar depois de passar por um evento traumático. Antes disso, Suzu tinha uma relação muito forte com a música e isso se perdeu na sua tristeza pós-trauma, porém através de um aplicativo chamado U, que proporciona uma experiência de compartilhamento corporal virtual, ela cria para si uma persona chamada Belle, e é a partir desse ponto que a história realmente começa.
Sendo a Belle, no mundo U, ela consegue cantar, se expressar e até ganhar fama dentro desse espaço virtual. U promete aos usuários uma oportunidade de recomeço, ser uma versão nova de você, mudar o mundo, tudo que você não poderia fazer no mundo real, lá é possível.
Através da Belle, Suzu volta a cantar, pois essa personagem cria uma barreira para ela contra a exposição e a vulnerabilidade. Nesse sentido, ela se sente livre para expressar os sentimentos através de sua música, pois ali ela não será julgada, já que ninguém sabe a real identidade dela. A única pessoa que conhece o segredo é a sua melhor amiga.
Antes de entrar em contato com esse mundo virtual, Suzu aparece para nós melancólica, triste e desconectada da vivência com seus colegas de escola. Percebemos que ela tem muita insegurança e que suas dores acabam por ser um ponto de afastá-la dos outros. Essas inseguranças são comuns na adolescência e o filme explora um pouco sobre padrões de beleza e hierarquias no ambiente escolar. A partir disso vemos como isso afeta a autoestima dos jovens, que nunca se sentem suficientes.
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O ambiente virtual traz liberdade
A inserção nesse ambiente virtual e a possibilidade de se expressar livremente fazem o humor e o estado de Suzu melhorarem muito. Logo, ela passa a ser querida e admirada, o que contribui para sua autoestima, mesmo que sempre existam aqueles que a critiquem e falem mal, a internet permite que a personagem volte a explorar o mundo à sua maneira.
Com uma fotografia maravilhosa, o filme trabalha sua identidade no contraste entre o mundo virtual e o real. Dessa forma, enquanto que em U as cores são sempre vibrantes e os personagens surrealistas, já no mundo real vemos personagens mais realistas e as cores mais naturais. Essas escolhas colaboram na narrativa e no desenvolvimento dos personagens e seus sentimentos, tornando o filme uma obra de arte de tão linda e sensível!
Mas nem tudo é maravilha na Internet
No meio de um momento muito bom do filme, surge no universo de U alguém não disposto a corroborar com a lógica de tranquilidade do aplicativo. A tão esperada Fera chega em um show virtual de Belle e arruma confusão. Ainda sim, enquanto todos falam mal do inconveniente, Suzu passa a se questionar sobre quem seria essa pessoa e porque estaria agindo assim.
Sendo assim, Suzu busca conectar-se e entender essa outra pessoa que ela não conhece, mas deseja compreender, enquanto tenta descobrir quem está por trás desse alter ego. Desse modo, quando a personagem finalmente descobre e entende os motivos da Fera criar tantos problemas, ela se vê em um dilema entre discurso e ação.
Assim, surge o principal debate do filme: a convivência na internet. Seria a internet um mundo paralelo onde tudo é permitido ou uma extensão da nossa sociedade? Talvez a pergunte soe óbvia, mas ao longo da trama em diversos momentos nos vemos questionando isso. E voltando nosso olhar para quanto a solidariedade e até mesmo o ativismo na internet realmente interferem na vida real das pessoas.
Enfim, fica a reflexão de que as vezes mais que palavras, a vida pede ações!
Fuga da vulnerabilidade
Outra discussão importante do filme é sobre como lidar com traumas, dores e sentimentos difíceis no geral. Para escapar da vulnerabilidade e da dor, cada pessoa escolhe uma coisa, se esconde atrás de algo. A internet serve muito para isso, ela pode mascarar a realidade. Ou seja, parece que todo mundo tem uma vida perfeita e isso alimenta ainda mais as inseguranças uns dos outros. Enfim, fingimos ser algo diferente na internet para nos sentirmos mais fortes, mas isso nos separa e isola cada vez mais.
E é isso que faz Belle tão especial, ainda que o tema seja complicado, Mamora Hasusa traz esses temas atuais e pertinentes, de forma sensível, sutil e bela através das relações dos personagens e de suas evoluções, por isso não tenho como não recomendar. Amei muito esse filme e já quero conhecer mais trabalhos do Mamoro Hosuda!
E aí você curte animação japonesa? Me conta nos comentários seu filme favorito.
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